Em 1974 Jorge Ben lançaria um de seus melhores e ousados discos: A Tábua de Esmeraldas. Jorge Ben na época estava envolvido com a leitura sobre a prática da alquimia e seus principais estudiosos. Por se tratar de uma temática um tanto hermética, o músico encontrou resistências por parte de sua gravadora, mas no fim, o diretor da Phonogram, André Midani deu-lhe carta branca, e ele pôde enfim lançar seu álbum.
Naquele mesmo ano, o Jornal de Música trouxe uma longa entrevista com Jorge, feita pelo jornalista Luiz Carlos Maciel. Considero essa a melhor e mais esclarecedora entrevista concedida sobre o histórico álbum. Por se tratar de uma entrevista longa, vou dividir em três partes. Segue abaixo:
"Esta entrevista foi um dos trabalhos mais fáceis que já fiz em toda a minha vida. Encontrei Jorge Ben por acaso nos corredores da Phonogram e falei que queria entrevistá-lo. Muito gentil e até amistoso, ele respondeu que podíamos marcar dia, hora e local. Sugeri então, que fizéssemos ali mesmo, naquele momento mesmo, pois senti que devia aproveitar a oportunidade que o destino concedera., fazendo com que nossos caminhos se cruzassem de repente de modo tão informal e descontraído. Ele hesitou. Mas quando expliquei que eu pensava numa entrevista só sobre Alquimia, ou sobre a sua relação com a Alquimia revelada no LP Tábua de Esmeralda, ele concordou logo. Daí em diante, só tive mesmo o trabalho de ligar o gravador e ficar escutando.Jorge fala com entusiasmo sobre o assunto e tenho a certeza de que flaria ainda horas seguidas sobre ele, se tivéssemos tido mais tempo e mais fitas para gravar. Como ele diz, a Alquimia é o seu hobby - e ele a vê com o mesmo olho simples e o mesmo sentimento espontâneo que estão na fonte pura de sua música.
Maciel - Bom, Jorge, o negócio é o seguinte: é você falar do disco da 'Tábua de Esmeralda'. Como é que foi a transação da alquimia? Como é que você entrou nesse barato, conheceu, e teve a ideia do disco?
Jorge - É sempre um prazer falar do disco 'Tábua de Esmeralda', que eu sempre fui ligado nessa transação de alquimia, porque desde garoto, embora eu não entendesse muito, eu lia alguns livros que tinha la em casa, que eram do meu avô. Meu avô era Rosa-Cruz e eu sempre gostei da maneira dos filósofos herméticos, entendeu, dos Rosa-Cruz, da maneira deles, a perseverança deles no trabalho. Assim como Paracelso, Fulcanelli - que é um alquimista contermporâneo que vive hoje por aí, acho até que ele está vivendo na América do Sul, e eu acho um trabalho bacana que me incentivou a fazer música; onde eu usei um texto um pouco obscuro.
Este texto, 'A Tábua de Esmeralda', foi escrito pelo faraó Hermes Trismegisto, isso dois mil, três mil antes de Cristo, ele foiu achado nas pirâmides de Guizé pelos soldados de Alexandre, o Grande, quando marchavam pela Macedônia, e daí, esse texto foi sendo traduzido. Do árabe passou para o grego, do grego pro latim. Há várias traduções, mas a melhor tradução, menos obscura, é a do Fulcanelli, aonde eu me encontei e consegui fazer a música pro Hermes Trimegisto, que foi o iniciador da alquimia. Alquimia Universal, como ele diz. Ele recebeu estudos de Oros. Oros é o filho de Isis e de Osires, e Oros foi professor de Hermes Trimegisto também, que levou a alquimia do Egito para a Europa. Levou diretamente pra meta, quando ele levou a meta da alquimia pra Espanha e depois espalhou por Paris,e de Paris tomou a Europa toda. Sempre fui ligado nesta arte, e eu vi que nesta arte também existe música. Quis fazer uma alquimia musical também. Há vários textos onde a fórmula era em música. E hoje, você encontra em algumas livrarias no Quartier Latin, se você chegar lá e pedir, naquelas livrarias bem velhinhas que você não dá nada, o cara te mostra. Você chega lá e pergunta - 'olha, eu queria um livro que falasse sobre alquimia, mas que tenha música, texto musical' - então o cara tira lá do baú. Tem quilos Ali as fórmulas eram escritas em música, ou senão de outro tipo: eles comunicavam sobre vitrais de igrejas.
M - Fulcanelli tem um trabalho sobre vitrais de igreja.
J - Maravilhoso! Fulcanelli tem um trabalho sobre isso.
M - 'O Mistério das Catedrais'
J - É 'O Mistério das Catedrais o livro dele, é maravilhoso! Eu não tinha esse livro, eu consegui comprar agora na minha viagem que eu fiz a Paris. Eu fui na livraria, me equipei de vários livros lá que eu precisava.
M - E esses em que são usadas fórmulas musicais? Esses eu não conhecia não.
J - Eu já gostava de alquimia , pela forma dos vitrais Achava bacana a comunicação deles por vitrais, por exemplo, eu vi agora , não no Louvre, mas na Notre Dame... No livro que eu tenho do Nicolas Flamel existe a torre que ela fala em na Note Dame. São todas as fórmulas ali escritas que só eles entre si entendiam. Por exemplo, ele dizia pra um alquimista amigo e contemporâneo - 'Olha, então igreja tal, vitral número tal, figura tal, está uma fórmula, - Então um alquimista, que fosse alquimista mesmo, sabia, chegava lá, e sabia aonde estava. Então ele passava para o papel e dali sairia uma fórmula para obter uma química; como Paracelso na base do remédio, da homeopatia; ou como um alquimista que estivesse interessado em descobrir...
M - ...a pedra filosofal...
J - É a pedra filosofal, pra fazer ouro, entendeu?
Nicolas Flamel, que foi um dos alquimistas da época, ele era livreiro, e do livro ele passou a ser escrivão, e daí ele descobriu... num livro escrito por Abrahão, um judeu, as figuras, aquelas que tem uns dragões. E Fulcanelli cita, ele conseguiu aquele livro. Não é um misticismo, bem dizer, mas é um troço... é muito profundo Ele conta que teve um sonho que o anjo apareceu pra ele - 'você vai encontrar um livro que você vai passar vários anos, que você não vai entender nada, mas com sua perseverança um dia você vai descobrir'. Ele um dia encontrou esse livro lá, comprou sem querer esse livro do Abrahão, o Judeu. E tem essas figuras todas, e por essas figuras ele estudou. Depois de vinte tantos anos perdidos, que ele falou. Não perdidos... de lutas, perdidas de dinheiro, tempo, ele conseguiu achar a pedra filosofal. E nisso tudo eu gosto muito de alquimia, eu lei muito e eu fiz a música em homenagem aos alquimistas - 'Os alquimistas estão chegando'. Cito na música o que eles sempre fizeram, que eles sempre foram discretos e silenciosos, os alquimistas mesmo.. Um alquimista alemão, Bottger, sem querer também, tentando fazer uma mistura pra pedra filosofal, descobriu a porcelana.. Então os sopradores que trabalhavam com alquimistas iam embora já sabendo que sabiam fazer aquilo. Então quando se via -ele conta nos livros - um cara falando muito, mostrando pros outros, ou o cara era charlatão, ou um alquimista mesmo querendo mostrar pro pesoal que alquimia existia, que alquimia era verdadeira. Disso tudo foram nascendo os estudos sobre a alquimia musical. Sobre a alquimia de Paracelso que eu citei, 'O Homem da Gravata Florida'.
Parece para mim que eu conheço Paracelso., entendeu?, do jeito que eu li sobre ele, parece que eu conheço ele. Que era um cara maravilhoso, um doutor excepcional, conhecia a química, a pedra filosofal. Ele curava qualquer um. Ele achava que se o cara tivesse a perigo, perigo mesmo, mas se ainda tivesse uma metade um pulmão, se tomasse aquele aquele remédio dele, recuperava todas as células, o cara ficava bom e continuava a viver vários anos."
(Continua)
M - E esses em que são usadas fórmulas musicais? Esses eu não conhecia não.
J - Eu já gostava de alquimia , pela forma dos vitrais Achava bacana a comunicação deles por vitrais, por exemplo, eu vi agora , não no Louvre, mas na Notre Dame... No livro que eu tenho do Nicolas Flamel existe a torre que ela fala em na Note Dame. São todas as fórmulas ali escritas que só eles entre si entendiam. Por exemplo, ele dizia pra um alquimista amigo e contemporâneo - 'Olha, então igreja tal, vitral número tal, figura tal, está uma fórmula, - Então um alquimista, que fosse alquimista mesmo, sabia, chegava lá, e sabia aonde estava. Então ele passava para o papel e dali sairia uma fórmula para obter uma química; como Paracelso na base do remédio, da homeopatia; ou como um alquimista que estivesse interessado em descobrir...
M - ...a pedra filosofal...
J - É a pedra filosofal, pra fazer ouro, entendeu?
Nicolas Flamel, que foi um dos alquimistas da época, ele era livreiro, e do livro ele passou a ser escrivão, e daí ele descobriu... num livro escrito por Abrahão, um judeu, as figuras, aquelas que tem uns dragões. E Fulcanelli cita, ele conseguiu aquele livro. Não é um misticismo, bem dizer, mas é um troço... é muito profundo Ele conta que teve um sonho que o anjo apareceu pra ele - 'você vai encontrar um livro que você vai passar vários anos, que você não vai entender nada, mas com sua perseverança um dia você vai descobrir'. Ele um dia encontrou esse livro lá, comprou sem querer esse livro do Abrahão, o Judeu. E tem essas figuras todas, e por essas figuras ele estudou. Depois de vinte tantos anos perdidos, que ele falou. Não perdidos... de lutas, perdidas de dinheiro, tempo, ele conseguiu achar a pedra filosofal. E nisso tudo eu gosto muito de alquimia, eu lei muito e eu fiz a música em homenagem aos alquimistas - 'Os alquimistas estão chegando'. Cito na música o que eles sempre fizeram, que eles sempre foram discretos e silenciosos, os alquimistas mesmo.. Um alquimista alemão, Bottger, sem querer também, tentando fazer uma mistura pra pedra filosofal, descobriu a porcelana.. Então os sopradores que trabalhavam com alquimistas iam embora já sabendo que sabiam fazer aquilo. Então quando se via -ele conta nos livros - um cara falando muito, mostrando pros outros, ou o cara era charlatão, ou um alquimista mesmo querendo mostrar pro pesoal que alquimia existia, que alquimia era verdadeira. Disso tudo foram nascendo os estudos sobre a alquimia musical. Sobre a alquimia de Paracelso que eu citei, 'O Homem da Gravata Florida'.
Parece para mim que eu conheço Paracelso., entendeu?, do jeito que eu li sobre ele, parece que eu conheço ele. Que era um cara maravilhoso, um doutor excepcional, conhecia a química, a pedra filosofal. Ele curava qualquer um. Ele achava que se o cara tivesse a perigo, perigo mesmo, mas se ainda tivesse uma metade um pulmão, se tomasse aquele aquele remédio dele, recuperava todas as células, o cara ficava bom e continuava a viver vários anos."
(Continua)
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