Robertinho de Recife já foi considerado um dos melhores guitarristas do Brasil. Na década de 70, ele surgiu, e teve em Fagner um de seus descobridores. Na melhor fase do cantor e compositor cearense, Robertinho esteve presente em vários trabalhos. Considero os três primeiros discos de Robertinho: "Jardins de Infância", "Robertinho no Passo" e "E Agora com Vocês... Suíngues Tropicais" três grandes discos. Depois Robertinho andou se enveredando num esquema mais comercial, mas seu talento como guitarrista sempre foi reconhecido. No Jornal de Música nº 34, de setembro de 1977, Fagner escreveu um depoimento sobre Robertinho, que começava sua carreira. Abaixo o texto:
"Em outubro de 1974 aconteceu em Olinda no Convento do Carmo, os '7 Cantos do Norte', uma invenção de Tiago Amorim e que reuniu toda uma rapaziada nordestina que já estava na batalha, cada um no seu caminho, mas todos intuitivamente buscando a mesma coisa: mostrar seu trabalho. Alceu, Geraldinho Azevedo, Ave Sangria e Marco Polo, Flaviola, Ricardo Bezerra, Robertinho e eu, fazíamos parte de um acontecimento que insinuo ser dos mais importantes já acontecidos no nordeste, e que serviu para dar um certo sentido no que poderia acontecer dali pra frente, levando-se em conta que alguns já haviam conseguido alguma coisa de concreto no meio, e outros iriam procurar mais ou menos o mesmo rumo, havendo assim naquele momento uma grande troca de energia, entre nós, coisa que reflete até os dias de hoje.
Jardins de Infância, primeiro disco de Robertinho |
Deste encontro das pessoas, das ideias e propostas de trabalho, aconteceu minha aproximação com Robertinho. De cara, era ele quem mais se preocupava com o show, desde os ensaios, a acústica da igreja, e outros detalhes, que já me surpreendiam, pelo amor que ele estava enolvido com a coisa., tudo isso culminando com a sua apresentação que já foi da mais belas coisas que eu tinha ouvida até então, com músicos de lá mesmo, com Icinho, um grande baterista que inda está por lá, e Zé da Flauta, hoje no Quinteto Violado, com músicas belíssimas e tudo muito bem preparado e apresentado. Diante de minha surpresa, fiquei feliz em saber dele mesmo, que um dia havia pedido a Naná (o percussionista) para apresentá-lo a mim durante a Phono 73, quando ele havia tocado com Luiz Melodia, e nesta época eu trabalhava com o 'de Vasconcelos', mas todos os planos viraram farrapo, e nosso encontro se deu mesmo nos 7 Cantos do Norte.
Deste dia pra cá muita coisa já rolou, e muito mais, certamente irá rolar. Não seria o caso de saber quem ganhou mais, ou perdeu, o certo é que esta energia cresce cada vez mais no nosso trabalho de composição, instrumental, e acima de tudo no relacionamento que passamos para outras pessoas que estão ao nosso redor, procurando a mesma coisa e criando vários espaços.
Falar de Robertinho, é o mesmo que balançar a poeira de uma mala, que também me carrega pela vida afora. Robertinho de Olinda, dos conventos e mosteiros do Carmo, do frevo da descida da Sé, dos boleiros de Dona Cléa (a mãe) aos merengues de seu Carlinhos (o pai). Robertinho dos Bambinos à Menphis, da harpa de Neusa (a mulher) aos gritos de Bebé (a filha). Roberval sempre quis mais, desde moleque. Uma supercaixa beatlalenta de Maristone para sua manola, sua guitarra transparente dada de presente por um fã americano, ou um cenário tipo belo, de Tiago.
Pouca gente, que eu saiba, reúne uma formação tão rica de experiência diária e tão perto da música quanto Robertinho. Não uma coisa cerebral, estudada e consequentemente para dentro, mas uma coisa viva, seguida, sofrida, enfim, uma coisa que só ele está sabendo, e deixe as pessoas até sem entender direito sua intenção, aliada a uma prática, uma apropriação e um conhecimento da música e do seu instrumento principalmente, só visto nos grandes mestres.
Um recado pra ele: Roberval, calma, escuta, pensa, e ataca fundo que a porteira já se abriu. Pode fazer aquela careta linda, e um beijo do Fagnólia."
Como seria massa, um bootleg desse "Os 7 Cantos do Norte", hein? Como o do Perfumes y Baratchos, da Ave Sangria.
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