"Identificado com as raízes genuinamente brasileiras da música popular, não é por isso que Chico deixa de se manifestar a respeito da chamada latinidad, tão em voga:
- Há um apelo dos músicos latino-americanos por uma união com os músicos brasileiros. Nossos problemas são comuns, mas o brasileiro alega o problema da língua, para se isolar dos movimentos culturais do continente. Acho que há necessidade de maior entrosamento, de uma aproximação maior. Cantar um bolero não representa nada. O problema da contribuição está na forma, e tenho certeza que eles tem muito a ensinar à gente. Isso não quer dizer que vamos sair por aí de mãos dadas. Vamos é fazer uma música mais ligada à terra e, aí, aproximar os problemas comuns. Seria um intercâmbio de ideias, pois, formalmente, nós temos mais coisas a dar que receber, e como conteúdo, eles têm muito mais a oferecer. De nada adianta importar um músico argentino ou exportar um ritmista brasileiro. O negócio deve ficar na troca de ideias. Isso o Milton Nascimento está fazendo, e muito bem. Agora, por exemplo, ele gravou com Mercedes Sosa e o grupo chileno Agua. E no seu próprio disco. Esse é o caminho, a comunhão. Acho bonito, útil e muito necessário. Milton é um cara de sorte, pois quando está gravando, surgem Mercedes e o grupo chileno. A gravações do Milton são verdadeiras festas. Quando coloquei voz com ele na versão de 'Dona Flor...' havia mais de 30 pessoas dentro do estúdio, num clima marvilhoso. Eu nunca vi coisa igual. No meu caso, infelizmente, tenho mais recebido que dado. Há, por exemplo, o uruguaio Daniel Villete, um grande amigo, que gravou um LP com músicas minhas e do Edu Lobo. Eu gostaria de muito de fazer um trabalho com ele, mas soube que está morando em Paris. Daniel é um ótimo compositor, um homem sério. Essa comunhão é da maior importância.
Chico com Francis Hime e Milton Nascimento |
E por falar em forma, Chico chega ao ponto crítico. Isto é, num dos poucos assuntos que gostaria de deixar em branco, talvez porque canalizem discussões intermináveis e até desimportantes. Ele diz:
- Essa música Corrente, de fato, é um trabalho muito elaborado, mas tenho um pouco de aversão a teorizar sobre isso. O trabalho é elaborado no sentido de buscar a simplicidade da forma. É como um serviço de culinária, para limpar tudo e não deixar transparecer a elaboração, entende?
E Chico não mais falou, a não ser para comentar sobre seu dia a dia - neste início de de ano, e sobre futebol. Sobre o dia a dia:
- Parei um pouco com aquele ritmo pesado pra poder continuar o que estou fazendo. Acabei de fazer as versões de Os Saltimbancos, dos irmãos Grimm. Gravamos um LP infantil: Miucha, minhas filhas, Bebel, Helena, Nara, MPB-4 e outras meninas no coro. Talvez, desse disco, saia uma peça infantil.. Acabei de escrever, com Paulo Pontes, uma comédia pesada: 'O Dia em que Frank Sinatra Veio ao Brasil'. Dessa maneira não tenho tempo para para shows. Mas não penso, nem de brincadeira, em parar com meu trabalho artístico não...
Sobre o futebol:
- Você me pergunta o que me atrai no futebol, se é o jogo em si ou a torcida. Eu diria que, no jogo, gosto de gol, do passe perfeito, da catimba. Na torcida, vejo a maior manifestação de liberdade coletiva que a gente tem."
Muito linda a ideia de comunhão entre os artistas latinoamericanos. Unidade que infelizmente ainda é utopia. Chico Buarque, Miltom Nascimento certamente estão entre os poucos que buscaram essa unidade.
ResponderExcluir"Já foi lançada uma estrela
Pra quem souber enxergar
Pra quem quiser alcançar
E andar abraçado nela"
Exato. Os artistas cubanos, como Pablo Milanés, já fizeram essa comunhão, mas ainda falta muito.
ResponderExcluirAbraço