Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

domingo, 11 de julho de 2021

Os Dez Anos da Jovem Guarda (Revista Pop - 1975)

Em setembro de 1965 estreava na TV Record de São Paulo o programa Jovem Guarda, apresentado por Roberto Carlos, e tendo como co-apresentadores, Erasmo Carlos e Wanderléa. A história provou que o evento não se trata de somente um programa de TV de grande repercussão e elevados índices de audiência, como tantos outros da televisão brasileira. Muitos consideram, sem exagero, que o programa representou o real nascimento do rock brasileiro, tanto que o nome “Jovem Guarda” é mais usado para definir um movimento musical do que propriamente um simples programa de TV, embora os dois conceitos se entrelacem, pois sem o forte apelo comercial e o impulso que atração dominical da TV representou, o movimento musical teria acontecido de forma mais discreta. É certo que anteriormente à Jovem Guarda já havia acontecido um movimento de rock no Brasil, bem no início da década de 60, em que se destacaram, por exemplo, Cely Campelo, seu irmão Tony Campelo, Demétrius, Sérgio Murilo, Carlos Gonzaga e outros, mas foi a Jovem Guarda que trouxe uma linguagem mais representativa de algo que se podia chamar de “rock brasileiro”. Tanto é que em setembro de 1975, exatamente dez anos após a estreia do programa, a revista Pop nº 35 trazia uma matéria sobre a primeira década de surgimento do movimento, e trazia o título de “Assim Nasceu o Nosso Rock”. Uma introdução da matéria diz:
“Faz exatamente dez anos: em setembro de 1965, foi ao ar o primeiro programa Jovem Guarda. Uma revolução: em pouco tempo, Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléa, seguidos de caras como Eduardo Artaújo, Martinha, e Wanderley Cardoso, eram ídolos do Brasil inteiro e mudaram o comportamento de toda a juventude. Foi ‘uma brasa, mora!’ “ Um box especial publicado contava um pouco da história de como tudo começou, e transcrevo abaixo: “Em agosto de 1965, as transmissões diretas de futebol pela televisão foram proibidas, para aumentar as rendas. Foi aí que Paulo Machado de Carvalho, diretor da TV Record (SP), teve a ideia: para substituir o futebol e garantir audiência, a TV apresentaria um show musical para a juventude, comandado por aquele cantor de 24 anos, com ar triste e simpático, que até aquele momento tinha colocado algumas músicas nas paradas de sucesso.
Roberto Carlos topou na hora e exigiu a participação de seu parceiro e amigo Erasmo Carlos no programa, mais alguns conjuntos de iê-iê-iê que seguiam as pegadas dos Beatles. Os caras da agência Magaldi, Maia & Prosperi, encarregados de bolar o programa, sacaram que faltava uma cantora para conquistar o público masculino. E, por sugestão de Roberto e Erasmo, optaram por Wanderléa. A primeira ideia de nome para o programa foi Festa de Arromba, mas alguém lembrou a frase histórica: ‘O futuro pertence à Jovem Guarda, porque a Velha está ultrapassada’. E assim nasceu a Jovem Guarda. Bolado o esquema, a ideia foi levada aos possíveis patrocinadores. E três empresas recusaram: ‘Não é conveniente ligar nosso nome a esses playboys cabeludos’, diziam. E a própria agência encarou a produção e patrocínio do programa. Para cobrir o custo da produção, lançou-se as marcas Calhambeque, Tremendão e Ternurinha, registradas em nome da agência e pagando royalties aos cantores. Fábricas de tecido, roupas e sapatos assinaram contratos para o uso das marcas em novos lançamentos de moda jovem.
Desde a estreia, no dia 6 de setembro de 1965, os programas eram feitos num clima de alegria e espontaneidade. Roberto e Erasmo lançaram gírias (‘legal’, ‘barra limpa’, ‘é uma brasa, mora!’, ‘bidu’...), antes usadas só por sua turma, que incluía Tim Maia, Jorge Ben e outros caras. Nas grandes cidades e nos subúrbios, a meninada se identificou de cara com a Jovem Guarda. Roberto Carlos, ao mesmo tempo que passava uma imagem de rebelde e inovador, cultivava a imagem de bom menino e foi conquistando adultos, velhos e crianças. Seis meses depois da estreia, a Jovem Guarda tinha vendido 350.000 peças de seus produtos, Roberto mais de 1 milhão de discos e o programa era visto por mais de 2 milhões e meio de telespectadores em todo o país. Mas, em 68, o interesse do público caiu, os patrocinadores se desinteressaram e a Jovem Guarda acabou.”

Um comentário: