Nos anos 80 a revista Somtrês publicava revistas-poster contando a história de bandas clássicas do rock. Eram posters medindo 1,10 X 0,80m, que ao serem desdobrados traziam um texto falando sobre a banda, trazendo discografia e fotos. Várias bandas foram destacadas, como Pink Floyd, Black Sabbath, Deep Purple, Led Zeppelin, The Who, Genesis, Jethro Tull, Rolling Stones, etc. Os Beatles ganharam uma edição especial, com uma revista-poster para cada um de seus discos, representando um excelente material. Bons tempos aqueles. Alguns grupos ou artistas não tão populares também foram publicados, como Frank Zappa (já comentado aqui) e o violonista progressivo Jean-Luc Ponty. Grupos dos anos 80 também foram destacados, como Dire Straits Siouxie and the Banshees e The Cure. Foi uma boa época para quem se interessa por material sobre rock.
A edição sobre o The Who, publicada em 1985 trazia um bom texto, escrito pelo jornalista Waldir Montanari, que começava assim:
"O rock nasceu na América do Norte, não há como negar isso. Entretanto, durante a primeira metade dos anos sessenta, quem tomou o poder nesse gênero musical foram, sem sombra de dúvida, os artistas ingleses. Os primeiros conjuntos britânicos que se projetaram para o mundo, a nível astronômico, foram os Beatles e os Rolling Stones. Se tivéssemos de citar um terceiro nome, é certo que seria muito difícil. Todavia, um sério candidato ao posto seria The Who."
The Who em ação nos anos 70 |
O texto faz uma referência ao fenômeno que aconteceu nos anos 60, e que ficou conhecido como "Invasão Britânica", quando vários grupos ingleses começaram a aparecer e se destacar no mercado do rock.
A revista continua a falar no The Who:
"Foi essa banda que teve a coragem ímpar de sair gritando aos quatro ventos que era a vez dos jovens. Vejamos um trecho de My Generation:
'As pessoas tentam colocar a gente num lance inferior/Falando sobre a minha geração/Apenas porque nós chegamos bem perto/As coisas que eles fazem são frias e terríveis/Espero morrer antes de ficar velho'.
Frases como essas rasgaram os céus até há, aproximadamente, três anos, quando a banda se despediu do público durante uma grandiosa turnê pelos Estados Unidos e Canadá."
Falar na história do The Who, passa obrigatoriamente pela citação de My Generation, uma das músicas mais emblemáticas do rock, e a revista, como todas as citações ao início da carreira da banda, traz em destaque a letra da composição de Pete Townshend. Falando no guitarrista, uma outra característica da banda, e que virou uma marca, era a destruição de guitarras nos shows. O texto da revista, traz a origem desse atrativo a mais que a banda usava para dar mais impacto em seus shows:
Townshend quebrando uma guitarra |
"Numa bela noite, num pub de nome Railway Tavern, Townshend bateu o braço da guitarra, acidentalmente, no teto. Irritado, e incentivado pelo delírio da plateia, que pensava fazer aquilo parte do número, acabou por estraçalhar o instrumento. Um assistente de produção cinematográfica, Kit Lambert, ao tomar ciência daquela postura de Pete, achou que podia levar aquilo adiante, e resolveu investir na banda. Para tanto, contou com a contribuição de outro nome que passaria à história do Who: Chris Stamp. Poucos dias depois, ambos faziam com que o grupo estreasse no Marquee Club de Londres, com alguns ingressos distribuídos, gratuitamente, entre os mods, e outros vendidos a preços bem baratos (afinal, precisavam lotar a casa). O resultado foi tão bom, que garantiu a permanência deles em cartaz por mais algumas semanas. É importante citar que Lambert foi o responsável por fazer o conjunto retomar o nome The Who."
A participação do The Who no festival de Woodstock foi sem dúvida, um dos grandes momentos da banda. A revista traz um destaque para essa participação, que ajudou a divulgar o nome do The Who em escala mundial:
"Em agosto de 1969, The Who se apresentou no Woodstock Festival. Ali, muitos tumultos aconteceram, além daqueles usuais. Tudo começou quando Pete solicitou aos organizadores para receber o cachê antes do show, pois precisava tirar logo de lá sua mulher, que estava grávida. Comenta-se que até hoje não recebeu um tostão. Para completar, houve o episódio do tal de Abbie Hofman, que queria discursar antes do The Who entrar, e saiu com uma guitarra na cabeça."
Sobre os anos 70, período em que a banda se firmou no cenário do rock como uma das melhores de todos os tempos, a revista destaca:
"A entrada da década de setenta trouxe alguns desencantos para os roqueiros em geral. O desaparecimento de Jimi Herndrix e Janis Joplin, mais o 'fim do sonho', apregoado por Lennon, muito contribuíram para isso. Quanto ao Who, a frustração maior recaiu sobre o próprio Pete Townshend, que não se conformava com o fato de a indústria da cultura ter transformado sua fúria em produtos. Sentia-se, ainda, desiludido com o público, que ia aos concertos na expectativa de vê-lo, meramente, a arrebentar a guitarra e cantar os velhos trechos de Tommy. Em Who's Next ele dá sua resposta a esse estado coisas como quem perguntasse:
- Who's Next Victim? (Quem é a próxima vítima?)
Em Quadrophenia encerrou-se, praticamente, a fase áurea das criações da banda. Os discos posteriores não passaram de medianos. Nos concertos, o sucesso era grande, mas sempre embasado sobre os primeiros hits da carreira. Fora isso, havia por trás dos bastidores, o sintoma de que as coisas não andavam bem entre os músicos. Essa evidência de desacordo se acentuava em função do lançamento de discos-solos, bem como da banda que John Entwistle mantinha, paralelamente. O fato era um só: Townshend roubava a cena para si, e os demais não se conformavam com isso. Roger, embora o vocalista, ficava ofuscado a cada voo do colega guitarrista. Entwistle chegou a declarar:
- Nem adianta solar no baixo, me soltar mais, pois o público seria capaz de pensar que tudo era obra de Pete.
O único que parecia continuar nas boas com Townshend era Keith Moon. Alguns críticos internacionais chegaram a até a apontá-lo como o membro amalgâmico da situação. Entretanto, Moon veio a falecer em 1978 (a causa oficial dizia que foi por ter tomado dose excessiva de um remédio contra o alcoolismo). Depois desse episódio, ficaram a um passo do fim. Contrataram um novo baterista - Kenney Jones - e chegaram a pensar na incorporação definitiva de um tecladista."
O texto da revista foi escrito em julho de 1985, pouco tempo depois da apresentação do The Who no Live Aid, no dia 13 daquele mês. A banda continuaria sem o mesmo pique, após a morte de Moon, mas pelo conjunto da obra, o Who sempre representou uma grande atração, por sua história e tudo que ainda significa. Em 2002 o baixista John Entwistle morreria, deixando outra lacuna numa das maiores bandas da história do rock.
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