Nos anos 80, em meio à avalanche de bandas que surgiam no Brasil, impulsionadas pelos bons ventos que o mercado proporcionava a esse gênero musical, surgiu uma dupla que trazia um trabalho bastante criativo, fugindo do padrão normal das bandas da moda. Os Mulheres Negras, formado por André Abujanra e Maurício Pereira representavam algo novo. Segundo afirmaram em entrevista na época "nosso som é uma mistura de tudo o que a gente ouviu em rádio desde a infância. A nossa formação cultural é pop. Nós não ficamos ouvindo nossos avôs tocando toada, nós escutamos Beatles, Jovem Guarda, Caetano, Gil, música americana, jazz..Quando se fala em pop, se fala em mistura e 'falta de raiz'. E é isso, é uma cultura urbana, o pop típico de uma cidade como São Paulo".
Autodenominada "A terceirra menor big-band do mundo", os Mulheres Negras gravariam dois excelentes discos. Após a separação, André formaria o Karnak e Maurício seguiria em carreira-solo. Abaixo uma resenha de um show dos Mulheres Negras em 1988, no Centro Cultural (SP), escrita pelo jornalista Antonio Carlos Monteiro, para a revista Roll:
"O que pode acontecer com um músico peso-pesado que se atreve a entrar em cena de patins? Isso mesmo que você pensou: o tombo do ano. E foi o que aconteceu com André Abujanra, guitarrista e vocalista d'Os Mulheres Negras, no início da temporada que o grupo fez no Centro Cultural, em São Paulo.
Assim, no dia 1º de maio, estava no palco do Centro o grupo 'Mulheres de Emergência', com os músicos Théo Werneck (guitarra e vocal), André Gordon (teclados) e Nadio Feliciano (baixo), convocados às pressas pelos Mulheres André e Maurício Pereira (sax e vocal), já que o trabalho desenvolvido pela dupla exige que ambos sejam multiinstrumentistas. Maurício não perdeu a chance de dizer que os três músicos adicionais haviam sido convocados dentro da campanha 'S.O.S Braço'.
Aliás, o bom humor é a tônica do grupo. Não o humor infantil e pastelão que alguns grupos fazem, mas a coisa refinada, cínica, até mórbida levada adiante pelo duo, que ri de todos e de si mesmo, principalmente quando se chamam de 'tecno-pobre' e de 'a terceira menor big-band do mundo'.
Os três convidados, principalmente Werneck, vestiram com facilidade a camisa d'Os Mulheres, e entraraqm na dança e na música com todo o bom humor a que tinham direito. E tome o repertório debochado e inteligente do grupo. Maurício e André satirizam tudo: teve hip-hop em italiano, reggae em francês e muitas brincadeiras com a plateia - especialmente com as crianças, em grande número por se tratar de um domingo à tarde. E, ao contrário do que normalmente acontece nesses casos, tudo isso foi permeado por um instrumental da melhor qualidade, provando que a preocupação do duo se estende também ao conteúdo do que apresentam.
Louve-se também as bem executadas vocalizações de Maurício e do engessado André - que, por sua vez, não perdeu a chance de satirizar, por diversas vezes, com seu próprio braço na tipoia.
Não é por menos que Sampa vem aclamando, de alguns meses pra cá, os Mulheres como a mais nova cult band da praça. Afinal, em termos de criatividade musical, é sempre agradável ver que ainda existe vida inteligente além das FMs - onde, aliás, a coisa anda mais preta que goela de urubu. No Brasil inteiro - e São Paulo em particular - já não é mais possível se girar o dial sem esbarar em alguma brega-chic da vida."
E a formação musical dos dois nem é popular,Gil,Caetano e Jazz,ao menos onde eu moro,nunca teve apelo popular.
ResponderExcluirNunca ''teve'',ou nunca tiveram,eis a questão? Eu sou um fracasso em concordância verbal e em virgular as frases,rs.
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