Quando era criança e começava a gostar de música, o que me interessava e me agradava era a Jovem Guarda, principalmente Roberto Carlos. Ouvia suas músicas no rádio, e elas me diziam algo. Mas uma coisa me incomodava: eu nunca via Roberto na tv. Na época, ele era contratado exclusivo da TV Record de São Paulo, que no Rio era transmitido pela Tv Excelsior, e em minha cidade só entrava o sinal da Tv Tupi. Dessa forma, eu nunca o via pela televisão. Mesmo assim, ainda me lembro de duas raras vezes em que pude vê-lo pelas câmeras da Tv Tupi: Quando ele se casou, na Bolívia, pois no Brasil ainda não havia divórcio - que só foi aprovado em 1977 - e Roberto se casou com uma mulher desquitada. Como o desquite não permitia que uma pessoa se casasse legalmente mais de uma vez, Roberto se casou com sua primeira esposa, Nice, na Bolívia, onde era possível casar mais de uma vez. Na ocasião, o casamento do grande ídolo da música, que virou o assunto do momento teve grande cobertura da imprensa, e assim pude ver Roberto na tv, quando ele se mostrou com uma aparência diferente: com cabelos mais curtos, um par de óculos de aros redondos e barba crescida, por fazer. Mas durante a cerimônia ele dispensou os óculos e se barbeou. Mas nessa transmissão ele não cantou, e pra mim não teve muita graça. De qualquer forma era Roberto na tv. A segunda vez em que o vi na tv foi num evento especial, que não me lembro qual, mas talvez um show beneficente ou algo assim. Lembro que eu tinha consciência que aquele era um momento raro, e quase não piscava, para não perder nem um segundo de um momento que talvez não se repetisse tão cedo. Nesse dia Erasmo e Wanderléia também se apresentavam, e a festa ficou completa.
Depois, a coisa mudou. O programa Jovem Guarda foi tirado do ar, e a Tupi contratou Roberto para um programa semanal, que ia ao ar às terças-feiras, após o telejornal (Reporter Esso). Esse programa durou dois anos, entre 1967 e 1968. No primeiro ano o programa se chamava RC 67, e no ano seguinte RC 68. Muito se fala até hoje do programa Jovem Guarda, mas o programa que ele fez na Tupi durante dois anos pouco ou nada se fala. O programa não teve o mesmo impacto do seu programa na Record, mas tinha um formato interessante, com ele cantando seus sucessos de então, e apresentando convidados, entre eles Erasmo e Wanderléia, seus mais destacados parceiros da Jovem Guarda. Lembro dele lançando músicas novas, como "O Tempo Vai Apagar" e "Ciúme de Você", entre outras. Em 1969 o programa saiu do ar, mas me lembro vagamente da emissora chegar a anunciar uma possível volta do programa na primavera daquele ano, o que não aconteceu.
Após o fim de seu contrato com a Tupi Roberto passou a não ter vínculo com nenhuma emissora de tv, e sua presença não era muito comum na televisão. Uma vez apareceu numa edição especial do programa Som Livre Exportação, da Globo, que inclusive foi filmado em película, por isso as imagens são coloridas, apesar de na época (1971) não haver ainda tv a cores no Brasil.
Logo em seguida Roberto assinaria novamente com a Tv Tupi, só que dessa vez o contrato não era exatamente com a emissora, mas com o apresentador Flávio Cavalcanti, que apresentava um programa dominical de grande audiência na emissora, das 7 às 10 da noite. Roberto só se apresentava nesse programa, uma vez por mês, como uma grande atração, e o ibope do programa crescia. Esses dias eram para mim, e muita gente, uma noite de gala, e muito aguardada. Naquelas noites Roberto se apresentava com seu grupo, durante cerca de meia-hora e chegou a lançar algumas músicas. Na época, antes de lançar seu disco anual, que saía sempre em dezembro, sua gravadora lançava duas músicas, como aperitivo. As músicas eram lançadas em compacto e num lp chamado As 14 Mais, uma coletânea com vários artistas da gravadora. Numa dessas vezes, as duas músicas lançadas com antecedência foram "Sonho Lindo" e "O Show Já Terminou". Estava tudo programado para Roberto cantar primeiramente "Sonho Lindo" e depois "O Show Já Terminou", que era o lado A do compacto, e a música de trabalho. Mas Roberto não sabia a letra de Sonho Lindo de cor, por isso ficou combinado com a produção do programa que se colocaria uma "cola", uma cartolina com a letra da música para ele ler, numa época anterior ao teleprompter. Mas na hora h, quando iria cantar, a letra da música não estava no lugar combinado. Assim, ele teve que cantar primeiramente a música que iria cantar ao final, e que ele sabia de cor. Roberto deve ter ficado meio puto, mas soltou aquela sua risada característica, mas o apresentador, muito severo com sua produção não escondeu sua contrariedade, e deve ter dado uma bronca em sua produção.
A partir de 1973, e até os dias de
hoje Roberto tem contrato exclusivo com a Globo, e apresenta o famoso
especial de fim de ano, que só deixou de ir ao ar em 1998, por ocasião
da morte de sua esposa Maria Rita, e em 2011, quando seu show em Israel,
que já havia sido transmitido foi repetido na condição de especial de
fim de ano. O programa, que em outras ocasiões já recebeu convidados de
peso, como Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque, Djavan, Marina
Lima, Gal Costa, Maria Bethânia, e seu parceiro Erasmo, hoje traz
atrações como Xitãozinho e Xororó, MC Leozinho, Bruno e Marrone, Michel
Teló e outros do mesmo nível.
Roberto já viveu melhores momentos na tv.
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