A volta de Baby do Brasil (ex-Consuelo) aos palcos, interpretando músicas de sua fase pré-evangélica foi uma das mais aclamadas apresentações do ano passado. Baby, sem dúvida, é uma grande intérprete, e uma personalidade sempre marcante. Baby sempre teve um lado místico, e uma de suas primeiras manifestações nessa área foi nos anos 80, quando era uma seguidora fiel do "paranormal' Thomas Green Morthon. O grito "Rá" era uma espécie de mantra para se conseguir energia e boas vibrações. Em julho de 1985, Baby concedeu uma entrevista ao jornal O Pasquim, onde dentre outras coisas, fala daquela sua fase mística de então. Da entrevista participaram Renato Martins, Walter Queiroz, Rick, Cesar Tartaglia, Mara Teresa Jaguaribe e Jaguar. Por ser uma entrevista longa, vou reproduzir apenas alguns trechos. Segue abaixo:
"Walter Queiroz - Da Baby do 'Desembarque dos Bichos', seu primeiro show em Salvador, à Baby de hoje, muita água rolou, né, além de muitos filhos. Como é que você vê as duas Babys, a que desembarcou com os bichos e a que viaja com os filhos?
- Baby Consuelo - Houve uma espécie de adaptação.Aquela Baby é a cara da Baby de hoje. Mas tinha algumas coisas dentro dela que com o tempo fui descobrindo e aos quais tive que me adaptar. Ou melhor, tive que conquistar. Passei por processos de marginalização, por milhares de processos, pra conseguir ter a docilidade, a criatividade, a ingenuidade, a loucura e a esperteza daquela Baby. A caminhada não foi só minha, foi das pessoas também. A Baby que as pessoas veem hoje é a mesma daquela, mas naquela época as pessoas não aceitavam ela. Quando eu entrava num programa com espelho na testa, tomavam susto. Tive que impor minha maneira de ser. Se não persistisse, seria limada.
Jaguar - Você sempre passou uma imagem juvenil, mas é evidente que o tempo passa. Você tá preparada para deixar de ser Baby e vir a ser Lady?
Baby - Como é que vai ser quando eu tiver 60 anos? Tá arriscado de tá com uma minissaia incrível. Se a perna tiver xué, boto uma meia divina. De uma coisa tenho certeza: muita gente vai dizer 'aquela velha é ridícula'. Não vou nunca conseguir fazer o modelito da idade.
Baby e seus entrevistadores |
Renato Martins - O processo e transformação da Baby de então pra Baby de hoje, passa por onde? Pela análise? Pela droga?
Baby - Nunca fiz análise. Com nove anos, pedi a meu pai pra me levar num analista. Era um tal de Heros Vital Brazil. E depois fui a outro em Niterói, que não gostei porque contava tudo pro meu pai. Eu ia pela vontade que sempre tive de querer saber mais. Queria saber sobre o tal de sexo, que falavam tanto. Queria ler Freud. Aí me trouxeram 'Vamos, criancinhas, a Jesus'. Embora eu fosse apaixonada por Jesus, não era bem o caso! Então eu queria alguém pra falar de certas coisas. O papo era muito careta. Aí, na idade em que normalmente se faz análise, nunca me interessei. Tenho um lado muito introspectivo, vasculho muito meu pensamento, faço uma análise direto. Tenho um lado místico-cósmico que me serve de base.
Renato - Você contou seu contato com a análise, mas com a droga?
Baby - A droga, de um modo geral, não é uma coisa que me agrade. O pior vício é o da bebida. É comprovado que bebida mata o cara. Agora, é difícil ter uma geração que não prove da bebida ou da maconha ou o que for. O mais legal é a pessoa ter a grande arma de possuir tudo e não ser possuída por nada. A grande filosofia que levei - e por isso não caí do cavalo - foi possuir todas as minhas reações. Isso tem a ver com Epicuro e Diógenes.
Jaguar - Voltando ao lado místico: você experimentou o espiritismo?
Baby - Nasci na religião católica, confessava, aquelas coisas da garota. Com nove anos, queria ser freira. Depois fui descobrindo que não era nada daquilo, mas já era esse meu lado. Ouvi falar de candomblé, mas nunca me atraiu. Tive uma bisavó que era logosófica. Acredito que todos os caminhos que sejam super do bem vão levar numa única direção, que é o Criador. Meu caminho foi mais meu mesmo, rezar no banheiro, uma coisa dentro de mim. Um estilo natural de reza.. Isso é o quente. Pra mandar uma energia positiva, não preciso estar necessariamente numa igreja. O homem e Deus estão um dentro do outro. O que gerou tudo meu foi Deus, então eu sou Deus, apenas tenho que me descobrir. Ou redescobrir. Deus me fez o menos possível para que eu me faça o mais possível pra que eu saiba que eu, quando estou em sintonia total, sou Deus.
No tempo dos Novos Baianos |
Walter - Você tem sido uma grande prosélita do Movimento Rá no Brasil. Explique o que é isso.
Baby - O Rá é uma liberação de energia positiva. Tudo que há de positivo: saúde, paz, amor, harmonia, tranquilidade. Quando você desejar muita felicidade pra uma pessoa, você grita RÁ! O Rá não está inserido em religião, mas na particularidade do homem com Deus, com a Criação. O cara pode ser da religião que for, Deus está acima.
Mara Teresa - Por que a palavra Rá?
Baby - Soube que no Seicho-No-Iê existe esse mantra: Rá - Rá - Rá - Rá
Ricky - Como você conheceu o Thomas?
Baby - Sempre tive essa fixação cósmica. Mesmo nas horas mais difíceis da minha vida, não abri mão de Deus. Creio que qualquer cacetada, qualquer coisa ruim, vai construir uma coisa boa. Tudo tá valendo. Conheci o Thomas, por exemplo, através de uma desinteria bacilar. Procurei o Zanata., o da macrobiótica, e nessa mesma noite ele me mostrou várias transmutações, papel transmutado em dinheiro, cerveja em perfume. Fui a primeira pessoa do meu meio a conhecer o Thomas. Era uma época que eu tava muito preocupada, rezando pela Clara Nunes dia e noite. Pedia a Deus uma resposta. Considero que Thomas chegou pra mim pra eu compreender o fenômeno na hora certa. Porque isso evoluiu para uma amizade minha com o Thomas. Ele me deu uma dica: 'Baby, você não é nada, mas tem uma imaginação fantástica'. Realmente, não sou nada religiosa, na hora da barra posso nem ter fé, mas vou imaginar que Deus tá lá em cima me dando uma mão, e vou imaginar tanto que vou ficar forte à pampa!
Ricky - Mas como é que foi o contato, a primeira vez que você o viu?
Baby - Quando eu estava com ele, materializou na minha correntinha, que tinha a cara do Yogananda, uma medalha de nossa Senhora do Escapulário. Tomei o maior susto quando aquilo entrou do nada! Senti a presença do Yogananda, que era meu mestre, aliada à presença do Thomas. Sempre pedi a Deus pra conhecer alguém encarnado na Terra que fizesse as mesmas coisas que fazem os grandes gurus nos livros que eu leio. Embora o Thomas diga: 'Não sou guru'. Realmente nossa cultura ocidental não tem essa de guru. Thomas não ensina ninguém a ser igual a ele. Ele demonstra a presença de Deus. Então, quando o conheci, ele falou; 'Vem cá que eu vou te mostrar como Deus é incrível'. E fez as coisas mais fabulosas e fantásticas que já vi na minha vida. Com isso, minha fé ficou forte. Todos meus delírios se tornaram realidade. Quando falo no Thomas, meu coração fica em flor, igual a um jardim."
Nenhum comentário:
Postar um comentário