sábado, 5 de março de 2011
Show de Gilberto Gil e Jackson do Pandeiro - 1976
No dia 20 de setembro de 1976 Gilberto Gil subiria ao palco do Teatro Gláucio Gil, em Copacabana, para fazer uma participação em um show de um de seus ídolos de infância e adolescência: Jackson do Pandeiro. Com certeza, deve ter sido um show histórico, assim como os outros dois que se seguiram, sempre às segundas feiras, na temporada que Jackson fez naquele teatro, tendo como convidados Dominguinhos e Jards Macalé.
Sobre o encontro de Gil com Jackson, o Jornal de Música nº 24, de outubro de 1976 fez a seguinte matéria:
"Convidado especial na estreia do show de Jackson do Pandeiro no Teatro Gláucio Gil, no último dia 20, quando estiveram juntos pela primeira vez em um palco, Gilberto Gil fez uma breve análise da importância de Jackson na MPB e, especialmente, em seu trabalho.
'Quando eu era menino, ficava escutando ele no rádio e pensava: um dia vou cantar como esse cara. Eu tenho um balanço parecido como dele.' O ouvido atento e curioso de Gil, que o levaria a percorrer diversos caminhos dentro da música, não apagaria contudo a marcante influência de Jackson. A tal ponto, que o próprio Gil hoje reconhece que nem Luiz Gonzaga o marcou tanto musicalmente.
- A grande importância de Jackson – explica Gil – é que ele é um dos chamados definidores cíclicos da MPB. Ele introduz o coco, a malandragem nordestina, enquanto Luiz Gonzaga traz o baião, que tem suas raízes no sertão, na caatinga, no country nordestino. Luiz é rural, e Jackson urbano. São, enfim, duas faces de uma mesma moeda, expressões máximas da música do Nordeste. Na minha formação, os dois são fundamentais, só que eu tenho mais mais parecença com Jackson. "Suingo" igual a ele. De Luiz eu trago uma carga empática maior, pelo volume da obra dele, que é um empreendedor, uma figura mais política.
- Quando Luiz Gonzaga apareceu – é Jackson que intervém – cantando baião e essas coisas, eu pensei, minha mãe cantava umas coisas mais temperadas. Aí, em vez de seguir o Luiz, vim para o coco, maracatu, forrozada.
- É, você é mais beira de praia – prossegue Gil -, mais dendê. Gonzaga é mais agreste. Você é um diletante.
- Peraí – espanta-se Jackson – assim você tá me esculhambando. Que diabo é diletante?
- É um cara que faz as coisas por prazer – tranquiliza Gil.
- Ah, aí tá certo. Eu sou isso mesmo – conclui Jackson.”
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Gostei muito,parabéns pelo blog,achei muito bacana!
ResponderExcluirRafael Hissa.
Olá Marcio, tudo bem? Sou pesquisador na UNESP, realizando doutorado sobre Jackson do Pandeiro.
ResponderExcluirEm primeiro lugar, parabéns pelo blog e por sua postagem tão interessante.
Por favor, você sabe indicar onde posso encontrar a reportagem original que foi transcrita aqui? Fique certo de que, se utlizar estas informações, darei os devidos créditos e citarei você e seu blog como fontes/referências em minha pesquisa.
Muito obrigado por sua atenção.
Meu contato é claudio_altieri@yahoo.com.br