Palavras Domesticadas

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domingo, 20 de março de 2011

Revistas Legais - Vogue Caetano


A revista Vogue Brasil lançava em 1987 uma edição que trazia uma longa matéria de capa com Caetano Veloso. Com excelente acabamento, trazendo muitas fotos, biografia, entrevista, discografia e muitos depoimentos, a revista é um excelente documento sobre o polêmico personagem de nossa história cultural. Amado e odiado na mesma proporção, por suas posições, Caetano nunca passou despercebido pela mídia, seja por sua música ou por suas constantes brigas públicas com a imprensa. A matéria se inicia com esse texto de apresentação do publicitário Washington Olivetto:
"Ninguém neste país tem demonstrado tanta capacidade de fazer o novo de novo quanto ele. Caetano está mudando sempre para continuar a mesma coisa: Caetano. Mais do que um compositor e um cantor extraordinário, ele é radar. Detecta, fuça, redescobre, patrocina. É ao mesmo tempo terremoto e sismógrafo. Por isso, não é à toa que o Andrea Carta e equipe escolheram o Caetano para abrir a new age da Vogue. Setenta páginas sobre um Caetano adoravelmente jovem e irredutivelmente mudo. Em silêncio. Fazendo barulho."

A revista traça uma trajetória de Caetano desde seus primeiros passos em Santo Amaro da Purificação, até sua vitoriosa carreira, e traz uma série de depoimentos:
"Com Caetano tem sido, desde que nos encontramos, como se nossas vidas transmitissem no espaço de um destino. Um espaço curvo, onde as aproximações e os afastamentos se dessem sempre sem a perspectiva da separação. Mas, antes, com a garantia elástica da unidade de um despropósito. Porque os interesses que nos reuniu têm estado sempre projetados para além de um finalíssimo estético-cultural, para além das aparências de um necessário utilitarismo subjacente, para além dos perigosos desvios do preciosismo (no caso dele) e da vulgaridade (no meu)" Gilberto Gil
"Tenho tanta coisas a dizer pra Caetano. Ele está fazendo coisas tão lindas. Olha, Caetano anda dizendo por aí que eu sou gênio. Diga para ele não falar assim, não. O gênio é ele. Caetano é um poeta. Caetano está lá no alto, lapidando a inteligência. Mas vamos pensar um pouco mais sobre o que Caetano está fazendo. Tenho tantas coisas a dizer pra ele. O que é que eu vou dizer pro Caetano? Não, não diga nada disso. Diga que eu vou ficar olhando pra ele." João Gilberto

O próprio Caetano escreveu um texto para a edição da Vogue:
"Eu, por exemplo Amargo Santo da Purificação: Só posso falar com você sobre o que você não entende numa forma que você não entenda.
Nos setenta milímetros do infinito, nos dois mil e um anos de viagem, na longa metragem, no Urubuquaquá, no Pinhém, anywhere, no século passado, eu no presente, eu no singular, desgarrado da neve, caindo? Para fora da tela, desprojetado? Minha fantasia, meu pesadelo desprotegido, eu não. Amor morto motor da saudade: No dia eu fui embora não teve nada demais. Não tenho medo, não: nada é pior que tudo. Soy loco por ti, América(While my eyes go looking for flying saucers in the sky). É preciso estar atento e forte, não temos medo de temer a morte. Vocês não estão entendo nada! nada! nada! Tomar uma aguinha de coco, sofrendo a brisa mansa de Itapoã. Um daqueles passarinhos viria pousar no braço da vitrola, mas isso não incomodaria Joãozinho, que continuaria construindo seu labirinto que vai da beira do Rio para a mesma beira do Rio.
O calidoscópio giragiragira e nos projeta mil anos no tempo, atrás ou adiante, numa época muito diferente da atual."

3 comentários:

  1. Sou BETO BUDIÃO, amigo e colecionador de tudo relacionado a Caetano. Tenho grande interesse nessa revista, posso dar em troca material raro, como por exemplo:
    - Música do show "Barra 69" não inclusa no disco
    - Texto obscuro que seria lançado no
    livro "Boleros e Sifilizações
    Abraços,
    roberto.luiz.lopes@hotmail.com

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  2. Caro Roberto, obrigado por visitar meu blog. gostaria de lhe ajudar, mas não tenho interesse em me desfazer dessa revista. Abraço

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  3. bom dia Marcio. De que mês é essa edição 151?

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