sexta-feira, 4 de março de 2011
Chico Buarque Análise Poético- Musical: Discordância
Em 1984 foi lançado pela editora Codecri, que era ligada ao jornal O Pasquim, o livro "Chico Buarque Análise poético-musical", de Gilberto de Carvalho. O autor faz um estudo analítico da obra de Chico, como o próprio título do livro define. Trazendo o prefácio do produtor e poeta Hermínio Bello de Carvalho, que por sinal, lhe dá uma boa credencial, o livro oferece um bom material para quem pretende vasculhar a obra de Chico Buarque, seja para alguma tese ou simplesmente para melhor entender a obra do retratado, como foi meu caso ao comprar o livro. O autor demonstra ser um estudioso da obra de Chico, como ele mesmo deixa claro na contracapa do livro:
"Este livro foi escrito tendo como base algumas palestras feitas por mim sobre a obra de Chico Buarque, o compositor. Confesso que reescrevi o livro tantas vezes quantas foram as minhas perplexidades ao tentar investigar a obra e o artista. Cada vez que me detinha a analisar uma letra de música sua, mais riqueza descobria, mais detalhes sutis encontrava. Como a incrível capacidade de colocar em cada sentença, em cada frase, em cada contexto o que Flaubert chamava de 'le mot juste' (a palavra justa)"
Dividido em três partes, onde se destacam "o feminino em Chico Buarque", "Chico Buarque e as Cantigas de amigo", "letras e comentários críticos", etc, o livro destaca as principais letras, que são analisadas e esmiuçadas, como também aconteceu em outras obras posteriores. Um fato que depõe contra o livro, principalmente por se tratar de um autor que estuda e analisa o texto poético de Chico, são alguns erros que aparecem em trechos de letras, como por exemplo:
"... e também pra me perpetuar em tua escrava
que você pega, esfrega, mas não lava" (Tatuagem)
Faltou a palavra "nega" após "esfrega"
"e me arrastei, e te arranhei,
e me agarrei nos teus cabelos,
no teu peito, teu pijama,
nos teus pés, atrás da cama (Atrás da Porta)
Em vez de "atrás da cama" é "ao pé da cama"
"...Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres que só dizem sim,
Por uma coisa à toa,
Uma noitada boa,
Um cigarro, ou botequim" (Folhetim)
O correto é "Um cinema, um botequim" e não "Um cigarro ou botequim"
"Já passou, já passou
Se você quer saber
Eu já curei, já curou..." (Já Passou)
O correto é "Eu já sarei" e não "Eu já curei"
Por meu exemplar se tratar de uma 3ª adição, esses erros já poderiam ter sido corrigidos. Também existe um ponto de discordância entre mim e o autor. Não se trata de um erro, como no caso das letras, mas apenas um conflito de opiniões. Ao analisar a letra de Amor Barato, do disco Almanaque, o autor faz o seguinte comentário:
" Amor Barato é a música mais fraca do LP Almanaque. Contrariando um hábito antigo, que era fazer long-plays com todas as músicas de excelente nível, o compositor Chico Buarque vem colocando, de uns tempos pra cá, nos seus últimos LPs, uma ou duas músicas bem abaixo do seu padrão (afinal, ninguém é de ferro, e nenhuma fonte é inesgotável, dirão alguns de seus intransigentes admiradores).
Com efeito, os versos 'Eu queria ser/Um tipo de compositor/Capaz de cantar nosso amor modesto' me soam tão mal como se fossem versos em que o jogador Zico dissesse que gostaria de ser um perna-de-pau, jogando uma bola de meia."
Eu discordo frontalmente dessa opinião. Amor Barato é um samba inspirado, na melhor tradição de seus sambas. Melodia agradável, de seu parceiro Francis Hime, e uma letra bem feita, bem construída, que em nada compromete sua obra poética.
Mesmo assim, "Chico Buarque Análise poético-musical é um bom livro.
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Bom dia Marcio..
ResponderExcluirGostaria de saber se em algum momento você chegou a conhecer Gilberto de Carvalho.. Tenho interesse especial nesse autor.
Tenha um otimo dia
Não, eu só conheço Gilberto de Carvalho através desse livro.
ResponderExcluirAbraço
thaianerosa, cheguei por acaso neste blog e vi seu comentário. Gilberto de Carvalho é meu pai, lançou esse livro no ano do meu nascimento. Se quiser, o contato dele é oac@predialnet.com.br
ResponderExcluirum abraço!