Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 3 de março de 2011

Maestro Julio Medalha Fala de Frank Zappa


Em meados dos anos 90, foi lançada uma revista especial sobre Frank Zappa. A revista Top Music resolveu dedicar-lhe uma edição especial, o que pode ser considerado um fato raro na imprensa brasileira, já que Zappa nunca foi um artista dos mais populares, apesar do grande prestígio e reconhecimento que conquistou entre os "intelectuais do rock", como dizia o dj Monsieur Limá. Sendo assim, não se trata de um astro que promoveria uma grande venda de revistas. A iniciativa corajosa foi excelente, e "Frank Zappa Vida e Obra" é uma revista para qualquer admirador desse músico visionário e genial guardar para sempre.
A revista traz curiosidades, frases, discografia, depoimentos, letras traduzidas, etc. Traz ainda uma entrevista com o respeitado maestro brasileiro Julio Medalha, que estudou música com Zappa na Alemanha nos anos 60. Segue abaixo trechos dessa entrevista:

Como foi sua convivênvia com Frank Zappa?
Julio Medalha - No começo dos anos sessenta eu fui para a Alemanha estudar regência sinfônica, na escola Superior de Música da Universidade de Friburg. Fica em uma pequena cidade ao sul, perto da floresta negra, um lugar muito bonito. Lá se reuniam os principais nomes da música contemporânea europeia e também norte-americana. E lá havia um jovem rapaz de cabelos curtos, bigodinho simples e tal. Um cara modesto, que falava pouco. Era norte-americano e chama-se Frank Zappa. Eu tive um contato muito bom com ele.
Fale sobre isso
- Ele demonstrava um conhecimento muito grande de todos os tipos de música possíveis e imagináveis. Sabia tudo. Sabia o que era Canto Gregoriano, Beethoven, Stockhausen, conhecia tudo de música pop. Countie Basie... sabia tudo. Absolutamente uma formação gigantesca, um homem de grande conhecimento técnico, que naquela época tinha como pretensão fazer uma carreira na música pop.

Como era Frank Zappa como ser humano? Fora o talento musical?-
- Ele era um sujeito que... o norte-americano de uma forma geral tem um compromisso tão grande com o profissionalismo, que quando está num lugar com esse propósito não consegue se soltar muito. Ele era assim. Também muito simples e modesto. Quem conheceu o Frank Zappa naquele período sabia que ele ia fazer um grande trabalho. Era um sujeito sem arrogância, até humilde para quem tinha tanto talento.


O senhor aprendeu alguma coisa com FZ?
- O que nós achávamos curioso nele era exatamente essa questão de ser um músico que em princípio queria fazer uma carreira com música popular, mas estava no meio do mais avançado antro da música clássica. Quer dizer, ali era um local de discussão das ideias da chamada música de concerto e, no entanto, tínhamos um músico pop ali dentro.
Qual é, na sua opinião, o maior legado que FZ deixou para a cultura?
- A visão crítica que ele teve do seu tempo e a excelente qualidade técnica de sua música. Foi um homem importante na área musical artística, na área técnica, com visão social aguçada e irônica de seu país. Esse cara não morre.

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