Em 1975 a dupla Sá e Guarabyra lançava seu segundo disco: Cadernos de Viagem, com um som bem no estilo rock rural, que já os havia consagrado anos antes, quando formavam o trio Sá, Rodrix & Guarabyra. Zé Rodrix saiu para carreira solo em 1973, buscando um outro tipo de som, e a dupla prosseguiu sua carreira com o estilo bem próximo do que fazia o trio. Em 1974 gravaram um ótimo disco, enquanto Rodrix também lançava seu primeiro disco solo: I Acto, com uma sonoridade mais elétrica, valorizando mais o lado instrumental, inclusive como muitos metais. No início de 1975 Sá & Guarabyra gravaram seu disco mais rural, com um som mais acústico, e com pouca guitarra, usando mais o violão elétrico nas passagens com uma levada mais rock. O disco até pode ser considerado como de um trio, já que a cantora Marisa Fossa participa diretamente do disco, e no próprio selo da versão em vinil o álbum é creditado a “Sá e Guarabyra com Marisa Fossa”. Nada mais justo, já que Marisa dá um ótimo apoio vocal nas faixas do disco. Pouco sei dessa cantora – além da participação nesse disco, só conheço uma outra gravação em que ela participa, no disco de Erasmo Carlos de 1971. Lembro que numa matéria na tv sobre o lançamento desse disco, Sá falou: “Sem falsa modéstia, Marisa é um coringa entre dois ases.”
O disco, cujo próprio título já deixa claro, usa muito a temática da vida na estrada, e as experiências no contato com as pessoas dos lugares por onde passaram. A faixa-título abre o disco. Assim como todas as faixas, é de autoria da dupla. “Olhando meus cadernos de viagem você pode perceber/Que as portas e janelas da paisagem têm alguma coisa de você/ Não há nada abandonado num passado que se fez com o todo o possível sentimento...” O encarte do disco traz um verdadeiro caderno de viagem com a descrição de passagens por várias pequenas localidades, e muitos personagens citados nas músicas são descritos. Por exemplo. Ondina Poconé, uma das músicas, “é a cigana colorida que lê a mão da gente, parados numa ponte sobre um rio seco.” Tarzan dos Cromados, outra faixa, foi inspirada em outro personagem real, descrito como um borracheiro que encontraram na estrada. O disco traz muitas outras faixas interessantes, como: Dança o Atrevido, Muchacha, Passo-Preto, Lá Vem o Bicho, Véio Camalião (sic), Xote Correntino, Roda o Mundo. Mundo Invisível, que fecha o disco, traz também uma bela letra: “A verdade e o silêncio estão aqui/ Tudo tem movimento nesse ar/ Mesmo aquilo que não se pode ouvir, se percebe de longe/ Há um mundo invisível por aí que nenhum navegante pôde achar/ Da cabeça do homem sai a luz que a faca não pode dividir/ Que a morte não leva embora”.
Cadernos de Viagem é um disco simples. Não emplacou nenhum sucesso e nem é citado em nenhuma lista dos melhores discos, mas é um álbum bonito e bom de se ouvir. A minha cópia de vinil eu comprei em uma lojinha que já estava meio decadente, no início dos anos 80. Já não renovava o estoque há tempos. Lá não se encontravam lançamentos, porém tinha um estoque antigo, de discos dos anos 70 que encalharam, e pouca gente sabia. Era uma espécie de sebo, com a vantagem de não serem de discos usados. Comprei muitas preciosidades lá, dentre elas Cadernos de Viagem, de Sá e Guarabyra.
Adorei o relato. Espero encontrar esse disco por aí. Vai que ... né? Hehe.
ResponderExcluirEsse é um Discaço!
ResponderExcluirTenho este disco é uma bela obra da dupla, viagem muito com ele.
ResponderExcluirSem dúvida, um grande álbum, que bem representa o rock rural.
ResponderExcluirDiscaço! Tive a sorte de comprar o vinil dele por apenas RS7,00 em Belo Horizonte
ResponderExcluirMuita sorte mesmo. Um disco desse costuma custar caro
ResponderExcluir😍 Incrível
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