sábado, 16 de outubro de 2010
As Palavras Amigas de Aldir Blanc
A revista cultural Leituras Compartilhadas, que faz parte do projeto Leia Brasil, que tem apoio da Petrobras, e é distribuída em escolas públicas, trouxe em seu nº 10 uma boa entrevista com Aldir Blanc. A revista é temática, e nesse fascículo o tema é "amizade", e traz textos de Affonso Romano de Sant'Anna, Fernando Sabino, Roberto da Matta, Zuenir Ventura, entre outros, sempre em torno do tema. Aldir é entrevistado por ser o autor da letra de Amigo É Pra Essas Coisas. Segue abaixo trechos da entrevista:
LC: Essa música é logo lembrada quando falamos no tema “amizade”. Palavras coloquiais, mas que expressam de uma maneira tão certa o sentimento entre dois amigos. Fale um pouco dela.
Aldir: Essa música tem uma história bem interessante, porque ela é minha segunda ou terceira composição, e uma das que ficaram mais conhecidas. Eu a fiz com uns vinte e poucos anos, e até hoje vou aos lugares, nas serestas, e a garotada canta , muitos até sem saber que é minha, porque ela já tem mais de trinta anos. Amigo É Pra Essas Coisas tirou segundo lugar no festival universitário com o MPB-4. O meu parceiro nesta música, Silvio da Silva Jr., fez um diálogo entre as primas e os bordões do violão, mais ou menos assim: o “Salve...” são notas mais agudas e o bordão responde, como nos sambas mais antigos. Toda a música, na verdade, sem letra, é um diálogo entre primas e bordões do violão. Então eu tive a ideia de letrar como uma conversa entre dois amigos, da forma mais coloquial possível, usando gírias, inclusive, e isso foi muito novo para a época. Depois a música foi classificada para o tal festival e surgiu um impasse porque, pelo que sei, o Chico Buarque ia cantar com alguém, mas não foi possível, e veio o MPB-4. Mas como um quarteto iria cantar uma música para dois? O Rui, que é a primeira voz, cantaria e os outros três responderiam? Então eles dividiram a música pelos quatro e ficou muito bacana porque a própria voz virou uma ação entre amigos. A ideia de dividir o diálogo em quatro vozes é do MPB-4. Resultado: minha música ficou em segundo e está aí até hoje. Viva, tanto em execução, quanto em sucesso, com várias gerações cantando. Ela ainda me enche de alegria.
LC: Em algum momento da sua vida você se identificou com suas letras?
Aldir: Muitas. Há letras que eu considero bastante pessoais. O Bêbado e a Equilibrista, por exemplo, (que fiz com o João Bosco, e que talvez seja a música que eu mais gosto) foi feita por causa de uma conversa com o Henfil. Ele que falava no mano, no mano, no mano... Eu nem sabia o nome do Betinho. Só depois que ele voltou (do exílio) que fiquei amigo dele. Mas era tão bonita – e ao mesmo tempo tão dolorosa – a saudade que ele sentia do irmão, que fiz a letra pensando nisso. Quando o João me procurou e pediu um samba pronto (se vocês repararem bem, a harmonia do samba é uma espécie de citação a Smile do Chaplin) pensei em ampliar isso para o tema do exílio, porque eu ficava realmente emocionado com o Henfil. Essa é talvez a música com maior identificação pessoal, por atender ao sufoco de um amigo. Mais tarde acho que virei praticamente irmão dos dois.
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