Palavras Domesticadas

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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Música Humana Música


Eu sempre gostava de ler a coluna de Nelson Motta no jornal O Globo. Ele costumava falar de gente que eu admirava, de músicos que nem eram muito citados por outros colunistas musicais da época. Gostava de seu texto e sempre me mantinha informado sobre os lançamentos, shows, e notícias em geral daquele pessoal que eu admirava. Desde adolescente passei a me interessar e descobrir o rock e a MPB com a mesma intensidade, e nunca vi nenhum tipo de conflito interno em gostar dos dois gêneros, como acontece com muita gente. Nas colunas de Nelson Motta em O Globo eu podia me inteirar do que acontecia nesses dois mundos paralelos, e costuma guardar as matérias que me interessavam, e guardo até hoje, entre tanto recortes antigos.
Por isso, em 1980, quando foi lançado um livro com uma coletânea de algumas daquelas colunas, eu logo me interessei em comprar e ler a obra. O livro - Música Humana Música trazia textos sobre música brasileira e internacional, e tinha prefácio de Glauber Rocha. Dividido em capítulos que englobam textos que se encaixam num mesmo tema, o livro discorre sobre vários estilos, épocas e movimentos da MPB principalmente, e é um ótimo material para quem quiser conhecer um pouco do que acontecia em nossa cultura na área músical, no Brasil dos anos 70. A Bossa Nova e suas histórias e personagens, assim como o Tropicalismo, o samba de raiz, o ainda pouco conhecido reggae, velhos compositores do passado, etc, tudo passa pelas 132 páginas de Música Humana Música.
Conheço muita gente que não gosta de Nelson Motta, e até se nega a ler seus livros, por ter uma opinião negativa sobre ele. Conheço, por exemplo, um fã de Tim Maia que não leu a ótima biografia Vale Tudo, escrita por ele, por não gostar do autor. Também pessoas do meio artístico já se manifestaram contra ele, muitas vezes criticando uma tendência de ser um produtor com tendências pop, o que é um exagero em minha opinião. Acho profundamente chato e desgastado aquele papo de "preservar nossas raízes", de "defender nossa soberania musical contra ritmos de fora", etc. Acho que a música é uma coisa universal, e a fusão de ritmos, desde que usada com criatividade e inventividade, é uma coisa que pode ser inovadora. Possuo outros livros dele, e acho seu texto interessante, e além do mais, como disse acima, ele sempre fala de artistas que admiro, e além de tudo é um grande conhecedor de música. Por isso recomendo para todas as pessoas que gostam de música, e não tenham preconceitos sobre nenhum tipo de invasão contra nossas "intocáveis raízes", a leitura de seus livros.

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