Outro vinil precioso de minha coleção é Imyra, Tayra, Ipy, de Taiguara (1976). A concepção do disco começa em Londres, onde Taiguara se encontrava em 1975, e há quase um ano produzia um disco em inglês, com excessão de duas músicas: Terra das Palmeiras e Porto da Vitória. Porém, mesmo antes de concluído, e apesar de ser praticamente todo em inglês, a obra foi totalmente censurada. Tratava-se demais uma ação de perseguição e abuso por parte dos imbecis que na época da ditadura comandavam os órgãos da censura em nosso país. De volta ao Brasil, Taiguara propõe à sua gravadora, EMI-Odeon, um álbum reunindo os melhores músicos em atividade no país, e sem economia de recursos. Na época, ele havia acabado de ler Quarup, de Antônio Calado, e sob inspiração do livro, que relata costumes e tradições indígenas, concebeu a ideia de Imyra, Tayra, Ipy. Pelo Dicionário da Língua Tupi, de A .Gonçalves Dias, Imyra é árvore, madeira, pau; Tayra é filho; e Ipy, cabeça de geração, princípio, primeira origem. Seu próprio nome, também de origem tupi, e grafado originariamente Taigoara, significa forro, livre, senhor de si. O disco reunia um elenco de músicos fantásticos como: Nivaldo Ornellas (sax e flautas), Toninho Horta (violão), Jacques Morelembaun (cello), Novelli (baixo acústico), Paulinho Braga (bateria e percussão) e Mauro Senise (flautas), entre outros. Os arranjos de 6 das 14 faixas ficaram a cargo de Hermeto Pascoal, que também atuou como músico. Os demais arranjos são do próprio Taiguara. A regência foi entregue a Wagner Tiso. Com um time de estrelas como esse só poderia ser concebida uma obra-prima. A união de Taiguara, que vivia seu auge criativo, e Hermetho Pascoal, um gênio musical que sempre enxergou à frente de seu tempo, só poderia resultar em um álbum fantástico.
Todas as composições são do próprio Taiguara (que usou o pseudônimo de Chalar da Silva para tentar driblar a censura), com exceção de Três Pontas, de Milton Nascimento e Fernando Brant, do primeiro álbum de Milton, num primoroso arranjo de Hermeto. Porém, novamente os órgãos de repressão exerceriam sua perseguição ao músico, por acharem subversivas as citações de opressão aos povos indígenas , e aos ideais de liberdade que algumas das letras traziam. O disco seria recolhido das lojas 72 horas depois do lançamento, e proibido em todo território nacional. Imyra, Tayra, Ipy é hoje uma verdadeira raridade, pois jamais pôde ser relançado no Brasil, mesmo depois do fim da ditadura, já que os direitos da obra pertencem a uma editora japonesa. A obra, no formato cd, só é encontrada no Japão. É frustrante vermos que numa época em que tantos discos primorosos do passado estão sendo relançados, não podemos em nosso país vermos o lançamento oficial desse disco primoroso. O exemplar em vinil que possuo, foi um golpe de sorte. Encontrei em uma barraquinha que vende vinis, proveniente do acervo de uma rádio local. Para se saber mais sobre o disco, e participar da campanha de repatriamento da obra, há um site dedicado ao disco: www.imyra-tayra-ipy-taiguara.com
Voltou. :)
ResponderExcluirSim. Felizmente já se pode desfrutar dessa obra-prima, sem precisar lmportá-la do Japão
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