Palavras Domesticadas

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domingo, 29 de agosto de 2010

Flávio Cavalcanti - Uma Figura Polêmica


Uma figura televisiva que marcou muito minha infância e adolescência foi o apresentador Flávio Cavalcanti. Em minha casa sempre se assistiu seus programas. Flávio sempre procurava colocar no ar questões polêmicas. Era conhecido, por exemplo, por ser aquele apresentador e crítico musical que quebrava os discos de que não gostava, e logicamente, isso acabou criando muitos desafetos. Se notabilizou também por criar factóides, forjar surpresas no ar, como se não fosse tudo previamente combinado. Tinha um posicionamento radical, conservador e moralista. Era rejeitado pela esquerda, pois tinha um posicionamento político que não escondia suas boas relações com setores e pessoas ligadas à ditadura militar.
Lembro que ainda menino assistia seus programas, como Um Instante Maestro. Aliás, nesse programa o apresentador criou algo passou a ser usado em inúmeros programas, que é uma mesa de jurados para analisar e julgar calouros. Lembro que entre seus jurados nesse programa havia Nelson Motta, que tinha vinte e poucos anos, Sérgio Bittencourt (filho de Jacob do Bandolim)e José Fernandes, que era o jurado durão, que dificilmente dava um parecer favorável ao que estivesse em julgamento.
Eu gostava quando ele apresentava umas coisas meio loucas, justamente para espinafrar. Lembro de uma vez em que se apresentou um cara que cantou uma música chamada Poensioscópio de Mil Novecentos e Quarenta e Quinze. Achei aquilo o máximo.
A partir de 1970 ele passou a apresentar na Tv Tupi o Programa Flávio Cavalcanti, que ia ao ar às 19h dos domingos. Nesse programa ele criou um quadro cujo nome, criado por ele, acabou fazendo parte de nosso vocabulário: Fora de Série. Esse quadro apresentava pessoas que faziam algo inusitado. Podia ser uma invenção, um número circence, uma imitação, etc. O quadro fazia tanto sucesso, que a expressão "fora de série" ganhou uso cotidiano.
Apesar de sua postura direitista e conservadora, ele às vezes tinha ações contraditórias. Um exemplo é o apoio que deu à Leila Diniz. Apesar de não ser uma militante política, Leila tinha muitas ligações com o pessoal de esquerda, o que a levou a ser perseguida pelos órgãos de repressão da ditadura. Não conseguia trabalho como atriz na tv ou teatro. Passou a enfrentar dificuldades, e logo Flávio Cavalcanti a colocou em seu júri para que ela recebesse o cachê e não ficasse sem trabalho. Mais tarde, quando o cerco se fechou em torno de Leila, e ela passou a ser ameaçada de prisão, ele a escondeu em seu sítio em Petópolis.
Outra surpresa pra mim, foi seu apoio a Raul Seixas. O tipo de música que Raul fazia era totalmente antagônico à sua postura conservadora, porém Flávio o recebeu várias vezes em seu programa sempre com elogios. Raul, inclusive citaria o apresentador nos versos "Mais nada me interessa nesse instante, nem o Flávio Cavalcanti, que a seu lado eu curtia na tevê".
uma coisa interessante que uma vez ele fez foi convidar semanalmente três ou quatro críticos de tv para assistirem a seu programa, e depois, ao final, fazerem a crítica no ar. Os convidados caiam de pau quando não gostavam de certos quadros, não havendo nenhum comprometimento em elogiar. Achei isso inovador e diferente.
A imagem que ilustra essa postagem é de um livro escrito por sua secretária e braço direito por muitos anos, Léa Penteado. Fala de sua vida, e um pouco da própria história da televisão no Brasil. Não me considero seu fã, mas não posso deixar de achá-lo um nome marcante na história de nossa televisão, mesmo discordando de muitas de suas posições.

3 comentários:

  1. nossa voltei no tempo. Acho que nesta época eu tinha uns 10 a 12 anos. Mto obrigada por escerver isto.

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  2. Sim, Neuza. Assisti muito aos programas de Flávio Cavalcanti. Também era criança quando ele fazia muito sucesso na TV. Obrigado por fazer contato

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