Nem todos compreenderam ainda, no Brasil, a atuação do grupo da Tropicália. Caetano, Gil e seus companheiros se utilizam de uma metalinguagem musical, vale dizer, de uma linguagem crítica, através da qual passam em revista tudo o que se produziu musicalmente no Brasil e no mundo, para criarem conscientemente o novo, em primeira mão. Por isso seus discos são uma imprevista colagem musical/literária, onde tudo pode acontecer e o ouvinte vai, de choque em choque, redescobrindo tudo e reaprendendo a “ouvir com ouvidos livres”, tal como Oswald de Andrade proclamava em seus manifestos: “ver com olhos livres”.
Os compositores e intérpretes do Grupo Baiano nem ignoram a contribuição de João Gilberto, nem pretendem continuar, linearmente, diluindo as suas criações. Eles deglutem, antropofagicamente, a informação do mais radical inovador da Bossa Nova. E voltam a pôr em xeque e em choque toda a tradição brasileira, bossa-nova inclusive, em confronto com os novos dados do contexto universal. Superbongosto e supermaugosto, o fino e o grosso, a vanguarda e a jovem guarda, berimbau e Beatles, bossa e bolero, são inventariados e reinventados, na compreensão violenta de seus discos – happenings, onde até o melodramático e redundante Coração Materno, do velho cantor Vicente Celestino volta a pulsar com os tiros de canhão da informação nova.
Augusto de Campos, 1969
Poderia colocar links de algum desses materiais pra download ou ouvir na net sem baixar...
ResponderExcluirO cara escreve muito bem.Eu li ''No Balanço da Bossa'',apesar de não concordar com muitas de suas idéias é um dos livros que eu mais gostei,pela qualidade do texto.
ResponderExcluirSim, Augusto de Campos, além de poeta concretista, escreves ensaios muito bons sobre música, como o livro citado. Eu comprei recentemente outro livro dele falando de música, que irei ler em breve
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