Um poeta adiante do seu tempo, considerado precursor dos beatniks e da poesia moderna, Walt Whitman foi redescoberto nos anos 80, não sei se por coincidência, quando a geração beat passou a ganhar, tardiamente, espaço no Brasil. Tomei conhecimento de sua poesia em meados dos anos 80, quando foi lançado pela Editora Brasiliense seu livro Folha das Folhas da Relva. Talvez tenha sido seu primeiro livro lançado no Brasil. Ao ler sobre Whitman e o legado poético que deixou, fiquei curioso em conhecer sua poesia, e assim logo adquiri Folha das Folhas da Relva, e pude então tomar conhecimento de sua obra e da força poética dos seus versos.
O prefácio de Paulo Leminski diz em um trecho:
"Toda revolução digna deste nome produz seu grande poeta.
"Antena da raça", o poeta capta, nos tempos de comoção social, a tremenda energia vital liberada pelas grandes transformações coletivas, em seu momento agudo, revolucionário ou insurrecional. Assim, se Maiakovski é o poeta da Revolução Russa, não é exagero dizer que Walt Whitman (1819-1892) é o poeta da Revolução Americana, ocorrida uma geração (1776) antes do seu nascimento (...)
Dai-nos, hoje, senhor, autopia de cada dia.Whitman, o primeiro beatnik, vive da longa vida que só uma grande poesia (ou uma grande revolução) irradia."
Abaixo, um poema retirado do citado livro:
Certa Vez Numa Cidade
Certa vez eu passei
por uma cidade bem populosa,
guardando impressões
para futuro emprego,
com suas mostras, sua arquitetura,
costumes, tradições,
embora dessa cidade eu agora
me lembre apenas de uma mulher
que encontrei por acaso
e me deteve por amor de mim
e juntos estivemos
dia por dia e mais noites por noite
- posso afirmar que só me lembro mesmo dessa mulher que se apegou a mim
apaixonadamente,
de quanta vez andamos, nos amamos,
de novo nos deixamos,
de novo ela a pegar-me pela mão,
e sem precisar ir:
vejo-a bem perto a meu lado
de tristes lábios trêmulos
calados
Nenhum comentário:
Postar um comentário