Ainda adolescente eu já gostava de desenhar e escrever. Essa prática se intensificou a partir dos 16 anos. Ficava desenhando, e se ocorresse uma ideia que servisse para ilustrar com palavras o que eu havia desenhado, eu elaborava um texto. Quase nada restou daquela época.
Um dos poucos desenhos acompanhados de texto que se conservaram é esse que ilustra essa postagem. E tem uma particularidade: o desenho e o texto foram criados a poucos minutos da virada do ano de 1975 para 1976. Ao final do texto eu coloquei 75/76, pois eu terminei de escrever minha reflexão exatamente à meia-noite, ao som dos foguetes anunciando um novo ano. Em seguida, mudei de roupa e fui curtir o baile de reveillon, que na época ainda existia, no Automóvel Club, um clube tradicional da cidade, do qual eu era sócio. O texto fala de satisfação pessoal, de realização profissional, no caso, não-realização. Termina com uma citação de Catorze Anos, um velho samba de Paulinho da Viola, que eu nem conhecia direito na época, tanto é que eu suprimi um pedaço da letra. O correto seria "Tinha eu catorze anos de idade..." Só coloquei catorze anos. É engraçado hoje ver o desenho e ler o texto. É como se eu estivesse vendo a mim mesmo, do jeito que fui um dia. O texto, na ítegra é o seguinte:
Profissional frustrado e descontente é esse aí de baixo. Se formou em Direito para satisfazer a seus pais. Ele sempre se achou um heroi. Sempre se achou um orgulho para a família, e não podia falhar dessa vez. Tem que ser doutor. Seus pais sempre lhe diziam isso. E como bom filho que ele sempre se orgulhou de ser não pensou duas vezes, resolveu atender s vontade dos pais.
Tem diploma na mão, ganha bem. Mas acha seu trabalho chatíssimo, e às vezes até sente sérias dificuldades. Esse é um fato que se repete em vários lares. E esse cara aí de baixo atendeu a vontade de seus pais, como naquele tempo que sua mãe lhe dizia para ir no armazém comprar dois quilos de açúcar.
Qualquer dia ele larga o emprego, pois esse açúcar é muito azedo.
"Tinha eu catorze anosQuando meu pai me chamou
Perguntou-me se eu queria
Estudar Filosofia, Medicina ou Engenharia
Tinha eu que ser doutor"
Paulinho da Viola
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