domingo, 26 de dezembro de 2010
Let It Bleed - Deixa Sangrar
Estou começando a ler o livro A Última Transmissão, do crítico musical americano Greil Marcus, um dos mais respeitados do segmento rock. O livro foi lançado no Brasil em 2006 pela editora Conrad. Comprei esse livro na época do lançamento, ou seja, há 4 anos (quase 5), mas só agora comecei a lê-lo. O livro é uma coletânea de artigos escritos pelo crítico ao longo dos anos. O livro começa com um artigo escrito na revista Rolling Stone americana em 27 de dezembro de 1969:
"Let It Bleed é o último álbum dos Rolling Stones que nós veremos antes que os anos 60, prestes a terminar, se transformem nos 70; ele tem a arte da capa mais vagabunda desde Flowers e uma lista de créditos que parece ter sido editada por uma gráfica do governo. Os tons das músicas são ao mesmo tempo obscuros e perfeitamente claros; as letras são ininteligíveis e muitas vezes introspectivas. Os Stones como banda e Mick Jagger, Keith Richards, Mary Clayton, Nanette Newman, Doris Troy, Madelaine Bell e o London Bach Choir como cantores às vezes carregam as canções para muito além de suas letras. Há o vislumbre de uma história - e pouca coisa mais. Com "Live With Me", "Midnight Rumbler" e "Let It Bleed", os Stones se pavoneiam vestindo suas máscaras assumindo papéis já conhecidos. Escondidas no meio das faixas mais cintilantes, encontran-se músicas à espera de um ouvinte que as alcance: "You Got the Silver", de Keith Richards, é um revival de "Love in Vain", de Robert Johnson. Mas são a primeira e a última faixas de Let It Bleed que contam qual é a história que temos aí.
"Gimme Shelter" e "You Can't Always Get What You Want" desmentem o brutalismo de "Midnight Rumbler" e as riquezas fáceis de "Live With Me". Os anos bateram à porta: foi um longo caminho de "Get Off My Cloud" até "Gimme Shelter", de "(I Can't Get No) Satisfaction" até "You Can't Alwaysss Get What You Want". Um novo mapa está sendo traçado: a velha postura de arrogância e desdém não foi apagada, mas está borrada. Antigamente os Stones eram conhecidos como o grupo que iria sempre dar uma boa mijada, como nos velhos tempos, num posto de gasolina dos velhos tempos. Agora, porém, Jagger canta assim: "I went to the demonstration/to get my fair share of abuse..." (Eu fui à manifestação/tomar a dose de abuso a que tenho direito).
"Gimme Shelter" é uma canção sobre próxima década. A banda evolui sobre a melhor melodia que eles jamais encontraram, adicionando instrumentos e sons aos poucos até explosões de baixo e bateria escorregarem sobre a primeira crista da música e encontrrem os uivos de Jagger e Mary Clayton, uma cantora negra de estúdio de Los Angeles. É um encontro cara a cara com todo o terror que a mente consegue juntar, movendo-se rapidamente sem jamais brecar, para que homens e mulheres tenham que vencer o terror em seu próprio passo. Quando Clayton canta sozinha, tão alto e com tanta força que você acha que seus pulmões estão estourando, Richards a enquadra com riffs medidos, pressionados, que passam queimando pelo emocionalismo dela e arremessam a música de volta ao julgamento distancido de Jagger: "It's just a shot away, it's a shot away[...]It's just a kiss away, it's just a kiss away" (Está a apenas um tiro de distância[...] Está a apenas um beijo de distância). Você sabe que um beijo só não é suficiente(...)"
Essa crítica, escrita à época do lançamento de Let It Bleed, revela um descontentamento do crítico com o rumo que a banda tomava naquele fim de década, aliás, a mais revolucionária do séc.XX. As várias músicas que viraram verdadeiros clássicos comprovam a importância de Let It Bleed na carreira do Stones e na história do rock. O tempo e o distanciamento comprovam isso.
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Mais um ano está chegando ao fim, e na beleza das noites iluminadas, os sonhos de muitos corações se preparam para a viagem à procura de suas realizações, que ocorrerá durante todo o ano vindouro.
ResponderExcluirA mesma ocorreu no ano que por hora se finda.
Sonhos saíram, alguns já voltaram sorrindo e outros, de mãos vazias, aguardam a chegada do novo ano, para seguir numa nova busca
E quando a meia-noite trouxer o Novo Ano para o mundo e os fogos de artifício anunciarem a sua chegada, nossos sonhos sairão por aí...
Que Deus tome a frente e que nas noites sem luar, as estrelas brilhem mais forte, iluminando o longo caminho.
Que no próximo ano possamos continuar a ser amigos e esperarmos juntos a chegada dos nossos sonhos que partiram, comemorando com imensas taças de amizade verdadeira a vinda e a realização de cada um.
FELIZ ANO NOVO.....FELIZ 2011
Beijocas