Palavras Domesticadas

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sábado, 23 de julho de 2011

A Prisão de Gilberto Gil - 1976


Em 1976 Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia se uniram para formar um grupo que se chamou Os Doces Bárbaros, e saíram em excursão por várias capitais do Brasil. Em Florianópolis a polícia local prendeu Gilberto Gil e o baterista Chiquinho Azevedo, por posse ilegal de maconha, e o caso ganhou ampla repercussão. O filme Os Doces Bárbaros, um documentário sobre o grupo, mostra cenas do depoimento de Gil na delegacia. A revista semanal Fatos e Fotos na ocasião fez uma matéria sobre o caso, intitulada Gilberto Gil - "Eu não sabia que era crime fumar maconha". Abaixo, alguns trechos da matéria:
"A intenção do delegado Elói Gonçalves de Azevedo não era prender os Doces Bárbaros -Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia - por porte ilegal de maconha. Quem, o policial queria ver atrás das grades era o jornalista Beto Studieck, do jornal O Estado, de Florianópolis. Antes do horário estipulado pela lei para efetuar a invasão de um domicílio suspeito, ele entrou no apartamento do jornalista e nada encontrou. Para não perder a viagem, reuniu a equipe e rumou para o Hotel Ivoram, onde não só os Doces Bárbaros estavam hospedados, como os seus técnicos, músicos, empresários e acompanhantes. Após se identificar na gerência e conseguir a relação dos hóspedes, o delegado e equipe passaram à ação. O primeiro apartamento vistoriado foi o 306, de Gilberto Gil.

- 'Nós batemos à porta. Quando o cantor respondeu, falamos que era da gerência - conta o delegado Elói. - Gil veio atender, perguntou qual era o assunto. Me identifiquei e revelei as razões que me levavam a fazer uma revista no apartamento. Sem se perturbar, o cantor abriu a porta, mandando que entrássemos. Procedemos ao exame dos armários e roupas. Quando encontramos na carteira o cigarro de maconha, perguntamos se ele era o dono da carteira e do cigarro. Sem perder a calma, Gil respondeu afirmativamente. Disse ainda que sabia ser ilegal o porte e a venda, mas a maconha era para o seu uso. Dei-lhe voz de prisão. Fomos revistar os outros quartos. O seguinte foi o de Gal Costa. Ela não estava. A moça que ali encontramos disse que ela havia dormido no apartamento de Maria Bethânia. Seguimos para o quarto de Caetano Veloso. Percebendo que éramos da polícia, Caetano começou a gritar por socorro. Quando se acalmou, pediu desculpas, dizendo que ainda estava sonhando. Examinamos o seu quarto e encontramos um vidro de Valium. Ele disse que o mesmo tinha sido comprado com receita médica, o que mais tarde foi comprovado'.
No apartamento 406 encontraram Maria Bethânia e Gal, que também estavam dormindo e receberam os policiais vestindo trajes bastante sumários. Maria Bethânia ficou tranquila, enquanto Gal reclamava da maneira como haviam invadido o apartamento. Ali encontraram ´"pó de pema" e outros materiais usados por Bethânia no culto de sua religião. Na dúvida, recolheram tudo para exame de laboratório. No apartamento 308 encontraram não só alguns cigarros (baseados), como uma boa quantidade de maconha prensada, que daria 'para mais uns 30 ou mais cigarros bem feitos'. Os suspeitos e flagrados foram foram colocados no apartamento de Caetano Veloso. No final, só Gilberto Gil, Chiquinho e Djalma foram conduzidos até a delegacia para serem autuados.
Perante o juiz, Gil declarou que havia começado a fumar maconha há oito anos, numa fase de ansiedade aguda. Disse desconhecer que o ato de fumar maconha representava um crime, embora sabendo que o tráfico e o porte eram passíveis de punição. Justificou também o vício como 'uma maneira de melhor atingir uma introspecção mística necessária para se concentrar'. Não fez segredo de ter provado LSD no período em que morou em Londres, mas que não havia se tornado um dependente.
Roberto Carlos telefonou do México, oferecendo seu advogado para cuidar dos assuntos de Gil.
- 'Há males que vêm para bem - diz Gilberto Gil. - Essa hospitalidade eu já conhecia mas não sabia ser tão grande. Foi por isso que eu e o Caetano insistimos em fazer a apresentação em Florianópolis. E tudo o que está acontecendo comigo não modificou em nada a admiração que sentia antes. Pelo contrário, jamais irei esquecer a pessoa do juiz Palma Ribeiro, pelo seu equilíbrio, e do Dr. Pedro Largura, pela sua inteligência, sensibilidade e compreensão.'"

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