Palavras Domesticadas

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domingo, 3 de julho de 2011

Greve dos Bombeiros - Há 50 anos


Muito se falou, e ainda se fala, no movimento dos bombeiros do RJ. A manifestação ganhou as manchetes dos jornais e apoio de boa parte da população, que se mostrou solidária aos os bombeiros que foram presos, e agora anistiados, etc. Mas há 50 anos, em 1961, uma paralisação e manifestação semelhante aconteceu em São Paulo. A revista O Cruzeiro fez uma ampla reportagem sobre o assunto em fevereiro daquele ano:
"Sexta-feira, dia 13, 8:30 da manhã, uma bandeira negra foi hasteada no alto de uma escada Magirus, em frente ao Quartel-General do Corpo de Bombeiros de São Paulo. O ato marcava o início de um movimento de indisciplina (o Corpo de Bombeiros pertence à Força Pública do Estado) que chegaria a provocar uma 'marcha sobre o Palácio do Governo', na manhã do dia seguinte. Ao substituirem o tradicional pavilhão vermelho da Corporação por uma bandeira negra, os soldados do fogo deflagavam o primeiro movimento de insubordinação em toda a existência (129 anos) do Corpo de Bombeiros.
- 'Estamos passando fome, estamos em greve!'
A partir desse instante, todos os chamados para o QG eram respondidos com estas palavras: - 'Por motivos alheios à nossa vontade não estamos atendendo ao público. Queira dirigir-se ao Palácio do Governo, pelo telefone 51-2191'. A ordem era não atender a nenhum chamado, exceto quando houvesse vidas em perigo.
O principal foco do movimento - QG dos bombeiros, na praça Clóvis Bevilacqua - passou a ser o centro de todas as atenções. Os soldados do fogo (todos integrantes da Corporação) permaneciam em sua sede, e uma imensa multidão se aglomerava na praça, na expectativa dos acontecimentos. Os oficiais rebeldes esperavam, a qualquer instante, a chegada de uma tropa de choque da Força Pública, com ordem para pôr fim à situação."

A matéria, que trazia um bom material fotográfico, mostrava uma foto do General do Exército Costa e Silva, que mais tarde seria nomeado Presidente da República, todo nervosinho, pagando geral para os bombeiros insubordinados, como na foto acima, à esquerda. A matéria continua:
"O drama que se arrastara durante um dia e uma noite chegou ao seu climax, no Quartel dos Bombeiros, ao alvorecer do diam 14. Exatamente às 5 horas, os Generais Costa e Silva e Franco Ferreira, comandando cerca de 300 homens, sitiaram a Praça Clóvis Bevilacqua. Carros de assaltos, armados com canhões, tanques, metralhadoras. Os soldados do Exército tomaram posição, com suas armas apontadas para o Quartel do Corpo de Bombeiros, onde a ordem da oficialidade era para que todos mantivessem a disciplina."
Hoje, 50 anos depois, a história se repete, com outros personagens, outros tempos. Mas a verdade é que não mudou muita coisa além disso.

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