Meu contato com a poesia concreta surgiu na adolescência, através dos livros didáticos. Não propriamente livros nos quais eu estudava, mas como minha irmã é professora de português, ela recebia muitos livros de Comunicação & Expressão, e sempre na parte de literatura havia referências à escola concretista. Eu costumava pegar os livros que ela recebia, e ia nas últimas páginas, que normalmente era onde os poemas concretistas apareciam. Eu gostava de ver aqueles textos fora dos padrões, usando uma linguagem que remetia a conceitos lúdicos, de se jogar com as palavras, construir e desconstruir, oferecer novas formas de se comunicar, não só através de palavras, como de símbolos. Aquela espécie de jogo me fascinava, e assim passei a tomar conhecimento de toda uma simbologia e uma nova linguagem. Na época alguns dos músicos que eu mais admirava, como Caetano, Gil, Tom Zé e Walter Franco principalmente usavam elementos do concretismo em muitas de suas letras, e isso aumentava ainda mais meu interesse por aqueles textos. Passei a ter grande interesse por tudo que os irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, os principais artífices do movimento produziam, e assim fui cada vez mais me fascinando pelo que a poesia concreta tinha a oferecer. Na verdade meu interesse pela poesia concreta antecedeu ao da poesia tradicional. Quando, mais tarde, eu passei a ser um consumidor de livros, logicamente passei a adquirir algumas obras concretistas, não só em poesia, como análises teóricas, como uma forma de melhor compreender o mecanismo de criação e elaboração do texto concretista. Na imagem que ilustra essa postagem, por exemplo, aparecem algumas das obras que me ajudaram a compreender e decodificar os signos que ajudam o leitor a mergulhar no fascinante universo concretista. O livro "Teoria da Poesia Concreta", de Augusto, Haroldo e Décio por exemplo, é uma obra altamente esclarecedora e envolvente para quem se interessa pelo tema, trazendo manifestos e textos teóricos publicados entre 1950 e 1960. Outros dois livros importantes são À Margem da Margem e Viva Vaia, de Augusto de Campos, sendo o segundo uma coletânea de textos publicados em diferentes obras. Um dos livros mais fascinantes do movimento em minha opinião é Galáxias, de Haroldo de Campos - um livro que me fascinou pela linguagem dinâmica, numa prosa que remete a imagens que vão se desenrolando através do texto, que quase não tem pontuação. A edição que possuo é acompanhada por um cd chamado Isso Não É Um Livro de Viagem, em que Haroldo recita alguns fragmentos do texto de Galáxias. Infelizmente Haroldo nos deixou pouco tempo depois de publicar essa edição. A importância dos irmãos Campos, vão além da poesia que produziram, pois escreveram vários textos teóricos sobre diferentes temas e traduziram autores de difícil conversão para outras línguas, pela particularidade de seus textos, como e.e.comings, Mallarmé, Cocteau, entre outros.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
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Difícil encontrar esse Viva Vaia.
ResponderExcluirAbraços,
Kleiton
kleitongoncalves.blogspot.com.br
É um grande livro, aliás, como todos dos irmãos Campos. Um abraço
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