Em uma postagem anterior, falando sobre o apresentador Flávio Cavalcanti, eu citei um belo gesto dele, ao dar emprego e refúgio a Leila Diniz, quando ela estava sendo perseguida pela ditadura militar. Ali eu falava sobre a não-militância política de Leila, e portanto, a falta de coerência naquela perseguição. Como na época ela era casada com o cineasta Ruy Guerra, e vivia num ambiente formado por intelectuais de esquerda, concluí que fosse esse o principal motivo dela ser perseguida. Ontem, lendo uma matéria sobre um livro que está sendo lançado, a respeito da censura política sobre publicações de cunho sexual, chamado “Maria Erótica e o clamor do sexo – Imprensa, pornografia, comunismo e censura na ditadura militar”, vi que havia outras razões. À princípio a censura que se exercia sobre essas publicações teriam implicações meramente morais, porém os órgãos de repressão absurdamente viam ações comunistas e subversivas na revolução sexual que essas revistas e livros poderiam representar. Achavam que tudo ligado a sexo era parte de um bem elaborado plano de Moscou para desestruturar a família e acabar com o capitalismo. A matéria diz: “O decreto 1.077, que instaurou a caça às bruxas em livros e revistas, foi chamado de “Decreto Leila Diniz”, por causa da entrevista que ela deu ao Pasquim, pregando o amor livre e denunciando o teste do sofá no meio televisivo. Leila, para os milicos, estava a serviço dos comunistas.” Sobre essa famosa entrevista, foi um escândalo na época, pelos palavrões (que eram representados por (*)) e declarações não muito comuns à época, como “Não vou comparar meus homens porque é sacanagem”, “Você pode amar muito uma pessoa e ir pra cama com outra” e “O palavrão virou verdade em mim, e quando as coisas são verdades todo mundo aceita”. Em junho de 1982, quando se completaram 10 anos de sua morte, em um desastre aéreo, o jornal O Pasquim lançou uma edição especial no formato de revista em homenagem a Leila, reproduzindo na íntegra a famosa entrevista, e com textos de Drummond, Millôr Fernandes, Betty Faria, Sonia Braga, Domingos de Oliveira e Marieta Severo, entre outros. Drummond, por exemplo, escreveu: “Este nome anda no coração dos moços, que dele fazem uma celebração da vida. Paradoxalmente, a celebração se realiza em torno da morte. Leila Diniz, pulverizada há dez anos num desastre de avião, vai sendo lembrada com entusiasmo pelos que conheceram e pelos que dela ouviram contar e se impressionaram com a sua personalidade. Hoje, Leila caminha para o mito, e temos de reconhecer que há mitos fecundos. Leila Diniz – o nome acetinado de cartão-postal, o sobrenome de cristal tinindo e partindo-se, como se parte, mil estilhas cintilantes, o avião no espaço – para sempre. Leila para sempre Diniz, feliz na lembrança gravada: moça que sem discurso nem requerimento soltou as mulheres de 20 anos presas ao tronco de especial escravidão”.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
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