Palavras Domesticadas

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sábado, 4 de setembro de 2010

Meu Amor Me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata


A revista Pop nº 4, de fevereiro de1973, trazia uma matéria sobre um show de Jards Macalé, no antigo Teatro Tereza Raquel, no Rio – espaço onde aconteceram grandes espetáculos ao longo dos anos 70. Na verdade, apesar da coluna ser dedicada à resenha de shows, a matéria fala mais da carreira e vida de Macalé, do que propriamente do espetáculo que ele vinha apresentando. De qualquer forma, aí segue o texto, assinado por Wladimir Tavares de Lima:
O que pintou na hora, a gente fez. Improviso, criação... É claro que a gente obedece a uma estruturação, mas a criação é livre. É como plantar grama no jardim. As flores nascem depois. Jards Anet da Silva “Macalé” fez questão de não se prender a nenhum planejamento, durante as quatro semanas que ficou no Teatro Tereza Raquel com seu show Meu Amor Me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata. Mostrando sucessos antigos como Samba de Uma Nota Só, ou revendo a carreira com Negro Gato e Gothan City, Macalé revive em duas horas dez anos de compositor e intérprete, usando sempre arranjos supernovos, agressivos e também muitos elementos de jazz. Macalé não é baiano, como muita gente pensa, mas carioca. Em 1963, com dezenove anos, conheceu Caetano e se ligou no grupo baiano. Mas só começou a carreira pra valer em 69. Formou um conjunto, o Dois, Três, Quatro, Cinco, Seis ou Sete no Balanço, e tocava em bailinhos de fins de semana. Foi violonista no show Opinião e trabalhou em mil apresentações do Arena. Estudou violão clássico com Jodacyl Damasceno, técnica de composição com Guerra Peixe e violoncelo com Peter Dauelsberg. Dirigiu shows e participou de gravações como arranjador e violonista. Em 69 apareceu no IV FIC, com Gotham City.
Os produtores de discos se grilaram com Gothan City. Ficaram assustados porque não era um produto regular, direitinho, pra consumo, dentro do esqueminha de festival. Por isso não conseguiu gravar a música. Só foi gravar mesmo no ano seguinte, um compacto duplo para a RGE. Em 71 foi para Londres e lá ficou três meses trabalhando com Caetano e Gil. Voltou quase no fim do ano passado e, depois de dez anos, conseguiu gravar na Philips o primeiro LP. “O mar continua não estando pra peixes (e eu sou um deles), nem pra aquarius, nem pra quem está a fim de cantar como um passarinho de manhã cedinho. Mas estamos aí por toda a cidade, pagando em suor a felicidade, voando dentro de uma navilouca, já que navegar é preciso, como viver também o é.”

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