Em 31 de dezembro de 1970 era anunciado oficialmente o fim da maior e mais influente banda de rock de todos os tempos: os Beatles. Assim terminava o ano de 1970, com uma notícia-bomba que já era esperada por quem acompanhava os últimos tempos da banda. No Brasil, como em todo o mundo, a notícia gerou uma série de matérias na imprensa. O mundo sem os Beatles era ainda uma novidade. Em sua edição de 20/01/71, portanto a menos de um mês da dissolução, a revista semanal O Cruzeiro, a mais importante revista da época trazia uma longa matéria sobre a banda e fazia uma análise sobre seu fim. Foi, com certeza uma das primeiras grandes matérias sobre o assunto, que saiu na grande imprensa brasileira após o anúncio do fim da banda. Assinada pelo jornalista Cláudio Rocha, a matéria tinha por título "Beatles Nunca Mais", que reproduzo abaixo:
"No último dia do ano que passou, Paul McCartney tomou a decisão que há muito se esperava: pediu o seu desligamento de qualquer compromisso com os Beatles. Afinal aconteceu. Permaneceram como reis durante oito anos no mundo da música. Surpreenderam os críticos mais conservadores e deixaram uma herança de renovação nos anos 60.
A pasagem dos Beatles pelo mundo foi arrasadora, rápida e revolucionária. Desde 1962, quando eles começaram a invadir as paradas de sucessos da Inglaterra, tudo mudou muito: houve Mary Quant e a minissaia, popularizou-se a ideia da criação de uma nova civilização, surgiu o lucrativo mito da Swinging London, desenvolveu-se a alastrou-se o estilo hippie; falou-se exaustivamente de paz e amor numa época em que a violência foi uma das características mais significativas. Houve também a música oriental, as drogas, a pesquisa de novos sons, a assimilação da guitarra elétrica por todas as culturas mais dinâmicas (como a brasileira), a entrada da música jovem (ex-bárbara) na alfândega do bom gosto da crítica, Jimi Hendrix, Janis Joplin, a música e a cultura pop.
Agora que John, Paul, George e Ringo estão se separando oficialmente, pode-se perguntar sobre a responsabilidade de quatro simples músicos em todo esse clima de mudança que foi a década de 60. Certamente eles não têm nenhuma responsabilidade direta em tudo isso, na medida em que não estabeleceram qualquer programa para reformular o mundo. Ao contrário, foi vivendo e fazendo músicas da maneira mais informal possível que eles conseguiram criar uma nova melodia e influenciar no nascimento de uma nova cultura.
Bill Haley, Elvis Presley, Little Richard: o caminho estava aberto para muitos rapazes em todo o mundo que nunca haviam sentido a minha atração pela música. Os conjuntos proliferaram, concorrência de nomes estrangeiros e cada vez mais singulares. A era do rock and roll, iniciada em abril de 54 com o filme Rock Around the Clock, foi o berço dos nossos herois.
Liverpool foi sacudida como tantas outras cidades, mas o acaso colocou o seu nome em destaque. Paul, John e George encontraram-se primeiro. Depois veio Ringo, já que o conjunto estava firmado em sua terra natal. Os contratos se sucediam sob a guarda de um ex-discotecário, Brian Epstein, e os Beatles viajavam pela Inglaterra, esperando o sucesso.
O primeiro disco, Love Me Do, lançado em outubro de 1962, lhes garantiu o aparecimento nas colunas especializadas em música popular, mas não estourou em vendagem. O primeiro disco a chegar às paradas foi Please Please Me, o que garantiu a hegemonia do conjunto na Grã-Bretanha. Daí para a frente as coisas foram bem mais fáceis e o ano de 1963 lançou oficialmente para todo o mundo a beatlemania. No dia 12 de dezenbro daquele ano, o Sunday Times de Londres previa o futuro com uma audaciosa afirmação: 'Os Beatles são os maiores compositores desde Beethoven.'
1964 foi o ano da consolidação. Viagem aos Estados Unidos, primeiro filme do quarteto (A Hard Day's Night/Os Reis do Iê-Iê-Iê), permanência constante nas paradas de sucesso em todo o mundo. No Alasca ou no Japão, Beatles era a palavra sem fronteiras."
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