"Augusto Marzagão, coordenador-geral do FIC, foi acometido de estafa. Por essa época, os jornais publicavam mais entrevistas críticas ao festival do que notícias sobre o próprio. Muitos compositores - Luis Carlos Sá, Capinam, Zé Rodrix, entre outros - criticavam mas continuavam a participar. Marzagão teve de afastar-se e a coordenação geral passou a ser feita por Solano Ribeiro. Afirmou-se que o Festival agora estava aberto a todas as tendências, 'do rock ao samba', e seria o contrário do que fora até então. Mudou-se o desenho do Galo de Ouro.
- Eu sempre insisti junto ao Marzagão - revela Ziraldo - para que permitisse mudar o desenho do Galo, difícil de reproduzir. Mas ele não cedia. Alegava que aquele Galo dava sorte. Quando ele saiu, mudei o desenho. E o FIC acabou.
Walter Franco interpreta Cabeça: FIC de 72 |
Solano Ribeiro, que havia organizado os festivais da Record, dizia que a apresentação do festival tinha de ser a de um programa de televisão. E realmente, quando assim se fez, o FIC foi o programa de maior audiência (as outras emissoras passavam filmes). No entanto, ao Maracanãzinho só foram 4 mil pessoas. Solano achava que o Festival tinha virado concurso de miss, o que muitos compositores que deixavam de participar também disseram.
A máquina, no entanto, não parara de funcionar. Os artistas estrangeiros recebiam cachê para a apresentação, não apenas no Maracanãzinho, mas também para shows em teatros e programas de TV. As gravadoras se interessavam, na medida em que seus contratados conseguiam se classificar. Mas Solano estava esperançoso: acreditava que o FIC poderia facilitar a renovação da música brasileira. De fato, em 1972, nomes novos apareceram. De maior impacto, Walter Franco, com Cabeça, e Raul Seixas. A grande revelação seria Maria Alcina, com Fio Maravilha, de Jorge Ben.
Raul Seixas, no FIC de 72 |
As confusões, porém, continuavam. Nesse ano, Nara Leão teve de sair da presidência do júri, Roberto Freire, um dos jurados, foi impedido de ler um manifesto. Houve socos e pontapés, Astor Piazzola foi vaiado e Alaíde Costa não pôde cantar Serearei, de Hermeto Pascoal: cortaram o som. Hermeto, aliás, foi proibido de de se apresentar com animais no palco: 'Fui criado no meio desses bichos, e sei que quando a gente aperta o pé de um porco ele dá um grito que nenhum piano do mundo consegue igualar'. O argumento não comoveu a Censura.
O FIC estava morto e sepultado. Faltavam-lhe bons compositores e intérpretes a até apoio do público. Sérgio Cabral acha que os festivais morreram por duas razões:
- Primeira, a ausência de grandes nomes. Segunda, a crise que a música popular vivia. A partir do tropicalismo, houve um cisma violento. Em 1968, o Paulinho Machado de Carvalho me chamou para apaziguar o júri. Havia gente que queria liquidar o Chico, que era a parte 'estabelecida'. O negócio era exaltar Os Mutantes. O voto final era político.
- E essa experiência recente, chamada Abertura?
- Ela projetou alguma coisa boa, como o Carlinhos Vergueiro, que tirou o segundo lugar(*). Projetou algumas pessoas de talento que precisavam aparecer, como o Alceu Valença. Acho que foi uma iniciativa importante. Festival é muito democrático."
(*) Na verdade, Carlinhos Vergueiro ficou em primeiro lugar, com Como Um Ladrão. Quem ficou em segundo foi Djavan, com Fato Consumado, e Walter Franco em terceiro, com Muito Tudo.
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