Palavras Domesticadas

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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Ópera-Rock de Odair José


A partir do início dos anos 70 Odair José se tornou um dos artistas mais populares, e um dos grandes vendedores de discos do país. Músicas como "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar", "Essa Noite Você Vai Ter Que Ser Minha". "Uma Vida Só (Pare de Tomar A Pílula)", "Deixe Essa Vergonha de Lado", e muitas outras, tornaram Odair um nome sempre presente nas paradas de sucesso. A temática de suas letras, que falavam de forma direta sobre temas que eram tabus, como se apaixonar por uma prostituta, ver a mulher amada em uma revista masculina barata ou viver um amor com uma empregada que se envergonhava de sua condição, o levaram a ser chamado de "Bob Dylan da Central", numa alusão à estação de trens de subúrbio da Central do Brasil, no Rio, que representava bem seu público e os personagens das histórias de suas músicas.
Porém, em 1977, Odair José resolveu dar uma guinada em sua carreira ao ousar fazer um disco conceitual, uma ópera-rock (uma prática bem comum na época). Uma matéria que saiu em janeiro de 1977, no tabloide Hit-Pop, que vinha encartado na revista Pop falava dessa mudança radical a que Odair se propôs. Sua gravadora, a PolyGram não aceitou bancar seu projeto, e Odair convicto de sua proposta, lançou seu disco (que segundo a matéria, seria duplo, mas na verdade foi lançado como simples) por um selo menor. O disco, talvez devido à pouca estrutura de divulgação por ser lançado por uma pequena gravadora, vendeu pouco. Seu público tradicional não entendeu sua proposta, e o público-alvo de seu projeto talvez por preconceito, não tenha dado a devida atenção ao álbum. Se não é uma obra-prima, pelo menos o disco "O Filho de José e Maria" traz um diferencial em sua carreira.
Odair hoje é respeitado por grandes compositores por ter sabido falar diretamente ao povo, e atingir em cheio as classes b e c. Já foi gravado por nomes respeitados na MPB, como Caetano, Ney Matogrosso, Arnaldo Antunes e Zeca Baleiro.
A matéria publicada na época é a seguinte:
"Odair José é o mais novo contratado de Guilherme Araújo, o inventivo e inquieto empresário de Caetano Veloso, Gal Costa e Ney Matogrosso. Isso pode significar grandes mudanças na carreira de Odair, 30 anos de idade, sete LPs gravados, sucesso de público, mas não de crítica. Quais são os planos de Guilherme para o cantor? No mínimo um grande sucesso ou um grande escândalo, com a estreia, em abril, da ópera-rock de Odair O Filho de José e Maria(título provisório) em Nova Jerusalém, Pernambuco, num espetáculo ao ar livre, que será gravado num álbum duplo. Guilherme fala do ambicioso projeto: 'Mesmo que os intelectuais virem a cara, vai ser um trabalho muito popular. E há muito tempo que eu vinha querendo fazer alguma coisa bem popular. Esse trabalho de Odair é uma história de início, meio e fim, sem textos, só com músicas, que também têm vida própria, mesmo isoladas do espetáculo'.
Na montagem da ópera-rock, que talvez receba o nome definitivo de Coisas Proibidas, Sonhar com Prazer ou Vale a Pena Tentar a Sorte (músicas do espetáculo), e que depois da estreia será apresentada em estádios de várias cidades brasileiras, Odair vai se mostrar mais descontraído, com roupas coloridas e muitas luzes, acompanhado por uma banda de rock e dois corais, masculino e feminino. Para ele, O Filho de José e Maria é um apanhado de si mesmo, a história de qualquer pessoa, desde o nascimento até os 30 anos. 'É um negócio muito simples', diz Odair, 'estou partindo para uma coisa mais calma, mais musical. Esse é um trabalho forte, mais jovem. Senti que minhas músicas estavam ficando envelhecidas e, na verdade, eu não sou tão adulto quanto aquelas letras que vinha fazendo ultimamente. Por isso, estou fazendo uma coisa muito mais parecida comigo, usando tudo que já fiz, sem renegar nada do que já fiz, porque eu gosto de tudo e minha intenção é somar. Não quero dividir. Eu quero é me mostrar mais para as pessoas.'
Odair com Caetano
O primeiro encontro de Odair com Guilherme Araújo e seus artistas (Caetano, principalmente) aconteceu em São Paulo, durante a Phono 73, espetáculo promovido pela gravadora Phonogram, reunindo todos os seus contratados.
Na ocasião, Odair cantou junto com Caetano (na foto acima aparecem os dois), o que provocou vaias que aplausos, fato que deixou Caetano irritado e o fez reagir com a já antológica frase 'não existe nada mais Z do que a classe A', numa crítica ao comportamento elitista do público, que não admitia o encontro de dois representantes de plateias tão distantes quanto a esclarecida e o 'povão'. E o 'povão' vai aceitar a mudança de Odair? Ele acredita que sim: 'Meu trabalho é a minha imagem. O público sempre está esperando o novo, e o novo é sempre mais válido do que uma coisa repetida, mesmo que algumas pessoas, no ínício, não gostem da novidade. Meu trabalho não é uma ópera. Ele parte do princípio de que uma música é sempre uma história. Então, esse espetáculo é uma história, a história de qualquer pessoa.' "

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