Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

30 Anos Sem Elis


Há trinta anos morria Elis Regina. Naquela manhã, como de costume, liguei a tv, e recebi a notícia, que como a todos, me surpreendeu. Fiquei tão transtornado, que liguei para minha irmã, que é fã de Elis, para dar-lhe a notícia, e disquei um número errado. Ela já sabia. Eu não queria acreditar no noticiário. Na época, costumava assistir ao TV Mulher, um programa matinal da Globo, apresentado por Marília Gabriela, e que trazia vários quadros, conduzidos por diferentes apresentadores: Marta Suplicy, que na época ainda não tinha entrado na política, falava de sexo, Clodovil falava de moda, Henfil tinha um quadro de humor, etc. Naquele dia só se falou em Elis, e a choradeira foi geral. Lembro que Marília Gabriela na ocasião estava brigada com Clodovil, mas naquela manhã os dois choraram juntos a morte de Elis. Foi uma grande comoção nacional. O que me surpreendeu, e a muitos, foi o fato de Elis, apesar da sua popularidade, era uma cantora considerada de elite, mas o que se viu foi uma verdadeira multidão a acompanhar seu velório, com pessoas de todas as classes sociais.
Como sempre acontece nesses casos, muitas revistas especiais são lançadas para lembrar a vida e a carreira de um artista que se foi. Na ocasião a revista Amiga, que era especializada em tv e no mundo artístico em geral, lançou uma edição especial sobre a vida e a carreira de Elis. A revista trazia uma matéria sobre o velório, enterro, e principalmente sobre a carreira e a vida de Elis, além de muitos depoimentos e fotos. Aliás, todas as ilustrações dessa postagem foram extraídas dessa revista.
Como destaque, transcrevo algumas frases de Elis, reunidas numa matéria chamada "Os pensamentos de Elis - sempre em busca da verdade". Ali está um pouco de sua personalidade e de sua visão do mundo e da vida:

"As pessoas ditas corretas têm todas as frustrações de não ser o que é a marginália. E a marginália tem a frustração de não ter essa correção."
"A única mulher com coragem de dizer que sente prazer é a Rita Lee. Ela fala o que a mulher fala, sem pudor. E a mulherada fica querendo se emancipar sem saber para onde vai, que nem om país."
"No Brasil, a inspiração é americana, mas a organização é macunaímica."
"As pessoas que me chamavam de mau-caráter estavam se auto-criticando."
"Eu sou guerreira e pego a metralhadora para sair atrás de quem me enche o saco. Agora, se um amigo precisa de mim eu faço tudo e não cobro gratidão para o resto da vida, somente exijo um mínimo de fidelidade e decência."
"Para quem está vivo, viver é um risco."

"Aprendi também que não se pode ser vulnerável diante das pessoas que nos rodeiam. Eu perdi a noção do que querem de mim as pessoas que me cercam, perdi a confiança em mim e no resto. Só acredito numa meia dúzia de pessoas no mundo que são meus amigos sinceros."

"Ninguém vai fazer da minha vida uma novela, nem vou sair da minha estrada por causa de fofocas, até porque quem paga as minhas contas sou eu."
"Por que exigem de mim tanta coisa? Sou boa cantora e ainda tenho que ser educada?"
"Se eu seguisse o rumo natural da minha vida, eu seria uma operária têxtil, de qualquer indústria do país, porque meu pai é operário, e minha mãe dona-de-casa. Então, se eu tive tantas portas abertas, foi porque eu tenho a anomalia de ser uma boa cantora, num país que poucas pessoas cantam bem, e expus isso publicamente."

5 comentários:

  1. Seu texto me comoveu muito, fiquei imaginando a sensação de vazio e perda deixada pela nossa Pimentinha. Sua gana, sua sede de viver e seu canto sem concessões, sem amarras e cheio de posições talvez não tivesse lugar num mundo pastichizado como o atual. Lamentável perda e belissima homenagem, Márcio! Mõnica

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  2. Sim, Mônica. Fico pensando em como seria a carreira de Elis hoje, se ela estivesse viva. Acho que ela manteria sempre a busca por qualidade, sem concessões.

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  3. Qualidade eu tenho certeza,pena que o tempo é cruel com as cordas vocais e fôlego de todo artista.Com o tempo ela poderia abrir uma central pra dar consultoria sobre música brasileira,essa sabia tudo.

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  4. Não sabia que já tinha passado por aqui.

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