segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
João Bosco - Do Rock Aos Cabarés (1975)
Em 1975, João Bosco era um jovem e promissor músico e compositor, que começava a se destacar no cenário musical brasileiro. Seu segundo disco, Caça À Raposa, trazia várias composições de sucesso, algumas delas gravadas por Elis Regina, que foi uma de suas melhores intérpretes. Ao lado do letrista Aldir Blanc, João formava uma das mais perfeitas parcerias da MPB, e naquele ano foi a grande revelação de compositor.
Em agosto de 75, a revista Pop trazia uma matéria sobre ele, com o título de João Bosco: Do Rock Aos Cabarés:
"Em 1972, o crítico Sérgio Cabral escreveu que apostava sua reputação e seus dez anos de experiência em música ´popular brasileira: 'Nada, rigorosamente, nada é mais importante atualmente na MPB, em matéria de coisa nova, do que a dupla João Bosco-Aldir Blanc'.
Pra muita gente, Sérgio ganhou de longe a aposta. Hoje, três anos depois, suas músicas tão tocando adoidado, fazendo muita gente se ligar na sua força. E João Bosco entrou definitamente nos ouvidos de todas as pessoas, depois de ter-se mantido como uma espécie de vinho raro, saboreado quase que só pelos conhecedores. Elis Regina, por exemplo, que descobriu Agnus Sei, faz questão de botar músicas suas em todos os seus discos, e que é que ainda não curtiu a nostálgica 'Dois pra lá, dois pra cá'? E alguns já o comparam a Milton Nascimento, um páreo mais suficiente para mostrar o peso de sua barra.
No começo de sua história, no entanto, não havia nada indicando que seria essa a sua estrada. Natural de Ponte Nova, cidadezinha do interior mineiro com uma forte dose de religiosidade, João Bosco cresceu ouvindo violino e piano, que sua mãe e sua irmã mais velha tocavam. E quando não eram os clássicos, ao vivo, eram Dalva de Oliveira, Ângela Maria e Cauby Peixoto, pelo rádio - até então, única fonte de música na sua cidade.. 'Até hoje me lembro, uma das coisas que mais marcou minha infância foi um show de Ângela Maria lá em Ponte Nova. Minha primeira visão de uma estrela, sabe? Aquele vestido todo de lantejoulas, desfile pela cidade em carro aberto, uma loucura'.
Depois pintaram Elvis Presley e Litlle Richard - e João se ligou no rock. Tantop que, pouco tempo depois, montou um conjunto: o nome era Charm Boys, e tinha dois violões (não eram guitarras eleétricas, não: violões mesmo), bateria e, inacreditavelmente, um afoché.
'Tinha também um casal que fazia a coreografia. Coitada, a menina vivia esfolada de tanto tombo que levava no palco'. O som que eles tiravam com esse 'equipamento' não devia mersmo ser dos melhores, por isso não se perdeu nada quando ele terminou o ginásio e foi estudar em Ouro Preto.
'Lá fiquei uns dois anos sem pegar no violão'. Mas era a época do estouro da bossa nova, e não demorou para que ele voltasse à estrada e começasse também a compor. Já dava pra sentir o seu talento, quando Vinícius de Moraes pintou por lá, em 68. 'Aí eu pensei: preciso mostrar meu trabalho para esse cara, pô. Então na maior sem-cerimônia, enfiei minhas duas músicas embaixo do braço, e fui bater na porta do hotel. A cara de pau valeu, e dois uísques depois eu estava tocando pra ele. O Vinícius ouviu, virou-se e falou: 'Essas duas nós vamos botar letra agora mesmo. Me mostra o resto'. E eu tive que disfarçar, porque só tinha mesmo aquelas: e eu que tinha ido lá pensando que ele não ia nem querr me ouvir.' Até hoje essas duas músicas estão inéditas, guardadas com carinho como sua porta de entrada.
Tocando (há quem diga que, quando toca, um dos dois parece ter três braços: o violão ou ele), cantando e compondo, João foi amadurecendo, arrumando parceiros e escolhendo seu caminho, até cruzar com Aldir Blanc. Na época, João estudava engenharia e Aldir, psiquiatria. Na música dos dois, o que resulta de científico é uma união das melhores que já pintou na música brasileira., melodia e letra se juntando como se tivessem saído da mesma cabeça. 'Nós fotografamos as coisas da mesma maneira, sabe?' Nos preocupamos com os mesmos problemas, a sensibilidade da gente é muito parecida.'
Ao mesmo tempo em que confessa a influência que recebeu de Gilberto Gil, João recusa-se a delimitar seu caminho a esta ou àquela trilha. 'No fundo, eu sei muito bem o que estou fazendo, onde estou pisando', diz ele, sem nenhum medo de passar da crítica religiosa de Agnus Seipara os cabarés que serviram de cenário de Dois pra lá, dois pra cá."
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