Palavras Domesticadas

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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Vinte Anos do Programa Jovem Guarda - Set/85


Em sua edição de 15 de setembro de 1985, a revista Domingo do Jornal do Brasil, trazia uma matéria de capa sobre os 20 anos da estreia do programa Jovem Guarda, na TV Record. Naquele mesmo mês de setembro ia ao ar pela primeira vez, em 1965, um programa de tv que faria história, não só por ser o porta-voz de um movimento musical que ganhava cada vez mais força no cenário musical brasileiro - apesar dos inúmeros detratores - como por lançar ao estrelato o líder do movimento, Roberto Carlos, que ao lado de seu parceiro Erasmo Carlos e de Wanderléia, definiria as bases do que se tornaria o rock brasileiro.
Na época em que a matéria foi publicada vivia-se o auge de sucesso do rock brasileiro dos anos 80, quando várias bandas e cantores faziam grande sucesso, como Legião, Paralamas, Titâs, Lulu Santos, Barão Vermelho, Lobão, Ultraje, etc. Por isso mesmo a matéria, de 5 páginas, traz vários depoimentos do pessoal daquela época, além de quem participou da Jovem Guarda. Segue abaixo um trecho da matéria, assinada por Antônio José Mendes, intitulada "Os Reis do Iê-Iê-Iê":

"A coisa começou às 16h30min de um domingo de setembro de 1965. Em poucos meses, todo o país falava nos 'amigos' para quem Roberto Carlos apontava no palco do auditório da TV Record, na Rua da Consolação: Martinha, Prini Lorez, Waldirene, Leno e Lilian, Renato e Seus Blue Caps, Os Vips, Eduardo Araújo, Demétrius, Rosemary, Cleide Alves, Meire Pavão, Golden Boys, Vanusa, Os Brasões, The Pops e dezenas de outros artistas. O rock que eles cantavam era extremamente ingênuo, com base na fase pré-psicodélica dos Beatles (um gênero que se convencionou chamar de iê-iê-iê), em sucessos da canção italiana e até em boleros. Suas roupas eram terninhos sem gola, botas, minissaias e todos usavam cabelos desafiadoramente compridos para a época.
O ápice veio na comemoração do aniversário de Roberto Carlos em abril de 1966. Em vez de fazer o programa no Teatro Paramount como de costume (o da Rua da Consolação, onde o programa começou, já ficara pequeno), a Record arrendou o Cinema Universo. Ali, cerca de 15 mil pessoas bloquearam ruas, quebraram, vidros de carros, perseguiram ídolos e dançaram aos gritos de 'ei, ei, ei, Roberto é nosso rei' e 'asa,asa,asa, Roberto é uma brasa'. No palco, os roqueiros olhavam perplexos para o que viam, ou choravam como Ronaldo, da dupla Os Vips. Nessa época, o programa era transmitido ao vivo em São Paulo e retransmitido por VT para Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife (só em São Paulo tinha três milhões de espectadores).Os produtos (roupas, bonecos, joias) associados à Jovem Guarda - em marcas como Calhambeque, Brasa, Tremendão e Ternurinha - vendiam à beça. Um sucesso de Roberto na Jovem Guarda, O Calhambeque,vendia bem na França, Angola, Argentina e México.

Houve oposição, é claro: no início muitos patrocinadores se recusaram a associar seus produtos 'a um bando de cabeludos delinquentes'. A elite desprezava os cabeludos, seus costumes e sons, considerando-os cafonas, e setores de esquerda viam as guitarras elétricas que eles usavam como o supra-sumo do imperialismo ianque. Mas nada conteve a avalanche: em 1966, um rígido crítico de música popular, José Ramos Tinhorão, registrava: 'O iê-iê-iê é o ritmo de maior comunicação com a massa, desde a utilização do baião rural de Humberto Teixeira, na década de 40'."

2 comentários:

  1. Porra, que matéria! Valeu, Márcio, man.
    Essa citação do Tinhorão, eu nunca tinha ouvido falar. Que surpresa tremenda! Se bem que não há informação sobre o contexto, né, não duvido que ele tenha descido o sarrafo no ritmo jovem. Uma pena não haver pistas sobre esse texto.

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  2. Pois é, o mais radical dos críticos musicais tecendo comentários simpáticos à Jovem Guarda é algo fora dos padrões

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