Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Caetano e os Concretistas


A aproximação entre tropicalistas e concretistas aconteceu nos anos 60, em virtude de afinidades estéticas logo percebidas primeiramente pelos concretistas. Caetano, principalmente, entre os tropicalistas, ao tomar conhecimento de forma mais profunda com a poesia concreta adotou várias vezes textos concretistas em seu trabalho. Algumas músicas, como Alfômega, de seu disco de 1969 e muitas letras do Araçá Azul atestam a influência. A letra de Outras Palavras, totalmente concretista, é outro exemplo. Posso citar também o poema Pulsar, de Augusto de Campos, musicado por Caetano e incluído no disco Velô. Mais tarde Caetano musicaria um trecho do livro Galáxias de Haroldo de Campos, dando o título de Circuladô de Fulô, que inclusive,também daria título ao disco. Na foto acima Caetano exibe o poema Viva Vaia, de Augusto de Campos. Em uma entrevista à revista Bondinho, em 1972, ele falaria sobre essa aproximação com os concretistas:
“Eu não conhecia a poesia concreta, nem as pessoas que faziam, e pra dizer a verdade não sabia nem o nome deles. Me lembrava do nome Décio Pignatari, ouvia falar muito mal dele quando fui a primeira vez pra São Paulo. Mas não sabia nem quem era; não leio muito, não leio quase nada, e quando teve aquele negócio de Tropicalismo, Alegria Alegria e Domingo no Parque, vi na casa de Capinam um livro de Sousândrade. Capinam dizia assim:”Rapaz, tô impressionado com isto aqui, que esses irmãos Campos de São Paulo descobriram essa poesia, fizeram um levantamento, eles estão fazendo um trabalho muito bom de redescoberta de poetas”...Isso antes do Tropicalismo. Mas eu nem guardei. Quando foi aquele festival que teve Alegria Alegria e Domingo no Parque, Augusto de Campos me procurou. Queria me conhecer, conversar comigo, e eu disse: “legal, bacana”. Até me explicaram melhor quem era, eu já sabia que existia poesia concreta, mas nunca tinha visto e não conhecia o negócio deles. Ele me deu umas revistas Invenção, então fiquei vendo o que eles faziam. Achei maravilhoso, fiquei interessadíssimo e depois comecei a relembrar o tipo de piche que ouvia a respeito deles, e comecei a ver a situação deles dentro da literatura brasileira. Augusto tinha falado, nesse dia, que tinha muita afinidade com o nosso trabalho, tanto ele como todo o pessoal da poesia concreta. Então ficamos amigos. Eu tenho no maior respeito por eles. Acho que no Brasil há um grande problema com relação à criação cultural, por causa do subdesenvolvimento. Os problemas criados para os concretos, seja de publicação, seja a reação crítica que encontraram e encontram até hoje, são um negócio sinistro, entende? Uma antipatia e um desprezo pelo que eles fazem, um negócio abominável, um negócio de fraqueza, do que o Décio chama de “geleia geral”. É o seguinte: você imagine que esses caras fizeram um trabalho com precisão, estudaram, traduziram, tiveram cuidado, é um trabalho que deve despertar, no mínimo, o interesse para quem queira estudar, entendeu? Quem queira se interessar, saber literatura...”

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