Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Arnaldo Batista em 1975


Em uma postagem anterior, da série Preciosidades em Vinil, eu comentei sobre uma obra-prima do rock brasileiro: "Lóki?", de Arnaldo Batista. Na época a revista Pop trazia uma matéria sobre Arnaldo, mostrando uma pessoa que levava uma vida saudável, em contato direto com a natureza, em uma vida no campo, longe da cidade. Essa imagem saudável, inclusive mostrada nas fotos, onde ele aparece com uma aparência jovial, parecendo estar vivendo uma fase mais zen, passava uma imagem que remetia a alguém que se reencontrava consigo mesmo ou algo assim. Infelizmente essa imagem não refletiu o que na verdade foi sua vida antes do acidente ou tentativa de suicídio na clínica onde esteve internado anos depois para se desintoxicar, que por pouco não o levou à morte. Mas de qualquer forma é bom ver essa matéria da época.

"Depois que os Mutantes originais se separaram, durante muito tempo não se ouviu mais falar no líder, arranjador e principal compositor do conjunto. Arnaldo Dias Batista simplesmente sumiu do mapa e seu nome virou uma espécie de lenda entre os roqueiros do Brasil. Diziam que ele estava pirado e não falava coisa com coisa. Outros falavam que ele estava correndo o mundo, em solitária peregrinação, enfrentando as barras da estrada. E corria ainda o boato de que Arnaldo tinha ido morar no campo e estava gordo, sereno e não pensava mais em tocar.

Este ano, quando seu primeiro LP sem os Mutantes (Lóki?) foi lançado, desfez-se parte do mistério: em todos os boatos havia um fundo de verdade. Arnaldo realmente tinha beirado a piração, soltou o corpo no mundo durante algum tempo e curtiu muito seu seu sítio na serra da Cantareira (SP). Mas deu um rolê em tudo e agora ficou numa muito boa, com um pé na cidade e outro no campo: "Aqui no meu sítio eu escuto a cidade com o ouvido direito e o campo com o esquerdo. As vibrações, por isso, têm mais força".
No sítio, Arnaldo levanta cedo, passeia descalço pelo campo, corta cana, planta alguma coisa, colhe outra, mexe na terra. Curte muito as plantas, conhece gente que conversa com elas, mas até agora não conseguiu estabelecer comunicação com nenhuma. Nem acha que isso seja necessário. "Basta transar legal com elas e se comunicar melhor com as pessoas..." Afinal, lembra o bruxo Arnaldo. "não é à toa que as pessoas simples costumam usar um galhinho de arruda atrás da orelha..."
A partir dessa verdadeira higiene natural, Arnaldo garante que que é muito mais fácil (e até divertido) encarar as barras pesadsas da cidade: "Alimentada pelas forças da natureza, a cuca trabalha melhor". Por isso, diz que todo mundo deveria abrir os olhos e ouvidos para as vibrações que vêm do verde, do ar puro, da chuva. Mesmo os roqueiros, que às vezes nem percebem que têm um papel a cumprir. "Afinal, o rock pode ser só uma brincadeira ou uma boa fonte de renda. Mas também uma revolução cultural, desde que os caras saibam se aproveitat de seu valor".

5 comentários:

  1. Você saberia dizer o mês dessa edição da Pop? Tenho visto várias notícias comemorando os 40 anos do "Loki" e acho que estão confiando cegamente no "(P)1974" que consta no rótulo do disco. Ainda que o LP tenha o ano de 74 "carimbado" como data oficial, pelo que andei pesquisando, ele chegou às lojas mesmo em 1975. Lembro que foi escolhido o disco do mês pela Pop, mas seria interessante descobrir QUAL mês. Já me mandaram trocentos links que supostamente "provariam" que o disco saiu em 74, mas não valem nada porque são informações compiladas posteriormente. Uma fonte errada pode alimentar a outra e assim por diante. Obrigado.

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    1. Setembro de 1975 - Edição n.35 - Revista Pop! Boa sorte amigo

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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