Palavras Domesticadas

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terça-feira, 20 de abril de 2010

Uma Maratona Inesquecível - parte 1


Há vinte anos eu era ferroviário, e por determinação da empresa, a antiga RFFSA, fui transferido para Minas. Desembarquei em Ubá, na zona da mata mineira, em junho de 1990, em plena Copa do Mundo. Logicamente eu não estava nada satisfeito com a transferência, até porque não sabia o que iria encontrar pela frente. Fui muito bem recebido, e aos poucos fui me adaptando à minha nova realidade. Meu colega de trabalho era um senhor já perto de se aposentar, e muito paciente com o novo colega ainda inexperiente e com muito a aprender. Sempre que desejava vir em casa, normalmente de 15 em 15 dias, ele cobria meu horário, e depois eu o compensava – uma prática comum, embora considerada irregular pela chefia. Trabalhamos juntos por dois meses, até ele se aposentar, em agosto. Um outro colega iria substituí-lo, mas ele estava de férias, e só se apresentaria na segunda semana de setembro. Então naquele mês de agosto, já um pouco mais experiente, tive que assumir sozinho a estação, e assim não poderia me ausentar dela e vir em casa. Naquele mês ouvindo o rádio soube que haveria um festival com várias atrações musicais durante três dias em Viçosa, uma cidade vizinha. As atrações eram imperdíveis, shows de artistas que nunca havia assistido, como Lô Borges, Wagner Tiso, Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti. Ainda haveria um show dos Titãs, minha banda nacional preferida na época, em sua fase áurea, com a formação original. Os Titãs eu já havia assistido a um show dois anos antes, mas também era imperdível. O festival foi organizado por formandos da Universidade Federal de Viçosa, e além da música promoveriam durante o dia eventos ligados à consciência ecológica. Daí se vê como a juventude daquela época era diferente da de hoje, mais consciente e ligada no que havia de melhor em termos culturais e comportamentais. Os ingressos seriam vendidos por várias cidades vizinhas, inclusive em Ubá, onde eu estava morando. Mas o grande problema era que eu estava sozinho na estação, e não tinha como combinar me ausentar naquele fim de semana. O que eu sabia é que não perderia aquele evento por nada. Comprei meu ingresso, e resolvi encarar uma maratona das mais pesadas. Eu trabalhava de 7:30h às 16:30h de segunda a sexta , e nos sábados de 08:00 às 12:00. No primeiro dia do evento, 31 de agosto, cumpri meu horário, descansei um pouco, comi alguma coisa, e por volta das 7 da noite peguei o ônibus para Viçosa, viagem que demorava uma hora e meia aproximadamente. Cheguei por volta de 8 e meia e me dirigi ao campus da universidade. Devo ter chegado lá por volta das 9 horas. Havia no local bastante gente. Um telão passava imagens de shows. Lembro de ter visto o The Doors. Também havia números teatrais. O primeiro show foi do saxofonista Nivaldo Ornelas, depois foi a vez de Wagner Tiso, e encerrando com Lô Borges. Uma grande noite de estreia. Não me lembro bem, mas os shows devem ter terminado por volta das três da manhã. O primeiro ônibus para Ubá só sairia às 7. Eu já estava ligado desde às 7 do dia anterior, e teria que trabalhar até o meio-dia daquele sábado, e ainda chegar meia-hora atrasado. Cheguei quase morto para trabalhar, mais de 24 horas ligado, parecendo um zumbi. Na próxima postagem conto o restante da maratona.

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