sábado, 17 de abril de 2010
Poema em Sibemol
Sou um poeta bissexto, daqueles que só se arriscam a escrever um poema quando surge uma rara inspiração não se sabe de onde. Penso que escrever poemas é coisa pra quem é do ramo, coisa que não sou. Esse, por exemplo, eu escrevi nos anos 80. Chama-se Poema em Sibemol.
Deixe-me cair no embalo
Deixe-me cair na gandaia
Antecipando a data marcada
Seguindo o calendário maia
Aterrissando nas aldeias
A procura de mentes sãs
Nas caravanas pela relva
Desbravada por nossos cães
Observando os perigos
Que apontam os nossos guias
Redescobrindo os tesouros
Que valorizavam os velhos dias
To be or not to be
Repetia o antigo sábio
Mas sem que a convicção
Fosse além do encarnado lábio
To be or not to be
Repetia sem parar
E a memória vinha em ondas
Que se perderam do mar
Abrindo clareiras nos túneis
Revelando normas ocultas
Sem visões de olhos fundos
Julgando alheias condutas
Distante dos muros erguidos
Para esconder antigas cores
Como esguichos de água fria
Para abrandar diferentes calores
Nas trincheiras do perigo
Que abundam nas picadas
Velhos trastes vislumbrados
Acadêmicas ruas asfaltadas
Enquanto o gado anda solto
Aqui ou em Corto Maltese
Segue o monge absorto
Defendendo a sua tese
E a lição que nós tiramos
De tantas observações
Vai servir de delirium-tremens
Quando os para-quedas deixarem os aviões
E é por isso que o pensamento
Como Howlin’Wolf solta o seu brado
E atravessa o perímetro urbano
Para sair do outro lado
Como o endeusamento ostensivo
Dos mitos dos antigos clãs
A se formar nos rios da madrugada
A desaguar no oceano das manhãs
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