sexta-feira, 9 de abril de 2010
Poeira tropicalista no Sesc
Dando prosseguimento ao projeto A Irreverência da Tropicália, desenvolvido pelo Sesc Campos, ontem aconteceu o show da banda Poeira D'Água, que trouxe ao público sua visão do movimento musical tropicalista. Formada por Faustho Terra Tupy (violão e voz), Lutte Oliveira (idem), Dani Nunes (voz) e Renato Arpoador (percussão), a banda praticamente fez sua estreia nos palcos da cidade. Uma apresentação anterior aconteceu, mas somente com a música O Maquinista do Tempo, classificada em terceiro lugar no Festival Estudantil de Música, promovido pela prefeitura de Campos. Do grupo também fazem parte Jorge Maravilha (percussão), Sérvullo Sotto (baixo) e João Felipe Veloso (bateria), que não participaram do show devido ao formato adaptado para o evento, acústico e mais intimista.
O show apresentado pela banda, além da música, trouxe textos e informações históricas sobre o movimento, para ilustrar a inclusão de certas músicas, o que enriqueceu a apresentação.
A banda abriu o leque das influências que o tropicalismo exerceu nos anos posteriores ao exílio de Caetano e Gil, considerado como o fim oficial do movimento. Na verdade, a Tropicália de uma certa forma continuou a existir, pois a estética criada pelos baianos continuou rendendo frutos. E foi basicamente essa influência pós-tropicalista que o Poeira D'Água apresentou em seu show.
Baby, de Caetano, deu início ao show, em uma bela e pessoal interpretação. Em seguida foram mostradas outras tantas composições que trazem as marcas da influência tropicalista, mesmo tendo sido lançadas pós-68. Jorge Ben, por exemplo, mesmo não tendo sido considerado oficialmente um tropicalista não poderia ficar de fora, e Zazuera caiu bem dentro do contexto do show, assim como Maracatu Atômico, representando Jorge Mautner, que na verdade só não participou do movimento por na época estar nos Estados Unidos, e depois veio a conhecer Gil e Caetano em Londres. Tom Zé, que fez parte do grupo tropicalista, teve escolhida a composição Menina Amanhã de Manhã, gravada originalmente em seu disco de 72, e depois regravada em 76 no disco Estudando o Samba. Gil, logicamente não poderia jamais ser esquecido, e o Poeira D'Água apresentou duas composições do mestre, aliás, muito bem interpretadas e apresentadas: Aquele Abraço e Back in Bahia. A fala de Faustho, explicando o contexto histórico das duas músicas, ilustrou bem o tom antagônico que elas exercem na história pessoal do autor. Enquanto a primeira foi composta pouco antes da partida para Londres, apesar do tom alegre (a alegria mostrada na letra é em virtude de sua libertação da prisão), a segunda fala sobre sua volta ao Brasil, mais precisamente à Bahia.
O período do exílio foi muito bem ilustrado também por uma fala de Faustho, quando foi relatada a visita feita por Roberto Carlos a Caetano em Londres em 68, e que acabou gerando a composição Debaixo dos Caracóis de Seus Cabelos, de Roberto e Erasmo, também apresentada - uma comovente canção em solidariedade a Caetano, e por extenção também a Gil.
Em seguida, a banda prestou uma bela homenagem aos Novos Baianos, filhos diretos do Tropicalismo, talvez os melhores representantes de toda uma geração de músicos que bebeu na fonte, e soube tirar proveito da enorme riqueza deixada pelos tropicalistas. Preta Pretinha, Sorrir e Cantar Como Bahia, Eu Sou O Caso Deles (uma de minhas preferidas), Mistério do Planeta, A Menina Dança, Brasil Pandeiro e Besta É Tu em interpretações pessoais e adaptadas ao formato intimista da apresentação encerraram o show. No bis, o Poeira fugiu do roteiro e apresentou uma composição própria, Quizumba no Sarapatéu (não sei se o nome é esse. Se não for, me corrija, Faustho).
Mesmo sem estar com sua formação completa, em um show não autoral, o Poeira D'Água em sua primeira apresentação nos dá uma mostra que vem mais coisa boa por aí.
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