Palavras Domesticadas

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sábado, 26 de junho de 2021

Novos Baianos - Show no Teatro Tereza Raquel/RJ (1977)

Em 1976 os Novos Baianos lançavam mais um disco, Caia na Estrada e Perigas Ver. Como normalmente acontecia, os discos lançados viravam um show de divulgação, em que se cantavam as novas músicas, e, logicamente, os grandes sucessos de discos anteriormente lançados, afinal, a plateia acabava pedindo. No caso, o show levava o nome de seu último disco, mas não era de lançamento, e aconteceu em uma curta temporada no Teatro Teresa Raquel, no Rio em 1977. Na edição de 09/06/77 o jornal o Globo trazia uma matéria sobre o show, assinada por Marcia Villela, e trazia no título “O novo show dos Novos Bahianos (sic) termina hoje no Teresa Raquel”. Uma introdução ao texto dizia: “Hoje é o último dia do show dos Novos Baianos ‘Caia na Estrada e Perigas Ver’, no Teatro Teresa Raquel, às 21:30m. Atualmente, o repertório dos Novos Baianos reflete uma constante preocupação com as músicas bem brasileiras, com especial destaque para o chorinho, cuja retomada teve no regional um dos precursores. Depois de um estrondoso sucesso e um período de recesso, o conjunto foi morar em São Paulo, onde o trabalho cresceu em ritmo e organização, culminando com um show que levou quatro mil pessoas ao Teatro Municipal de São Paulo. Nesta sua estada carioca, os Novos Baianos aproveitaram para rever os amigos, jogar peladas, relembrar Jacarepaguá e reencontrar o público fiel que provaram ter, com o recente sucesso de um show feito na Concha Verde.” Abaixo, a matéria: “Em um hotel em Santa Tereza, onde estão hospedados, Paulinho Boca, Galvão e Baby Consuelo falam sobre o rumo e os desejos do grupo, enquanto ‘riroca (com apóstrofo e inicial minúscula mesmo), filha de Baby, tenta, brincando, pegar a caneta da repórter. Com o linguajar pausado, característica do baiano, Paulinho conta que a experiência paulista foi muito importante quanto à estruturação do grupo, já que lá é necessário trabalhar junto com pessoas que já têm um grau de organização bem mais adiantado que no Rio. - São Paulo, por si só, já absorve tudo. Por isso, parece que estamos parados. Mas é justamente o contrário: trabalhamos mais. A parte econômica é mais movimentada. Nós ainda não conseguimos uma estabilidade, e talvez não consigamos nunca, mas estamos nos ‘olhando’ mais, nos preocupando com documentos, etc. Na verdade, ainda continuamos desorganizados e ‘peladeiros’.
O show, apesar de ter o nome do disco que foi lançado ano passado, apresenta muitas músicas novas, dando um especial destaque à parte acústica, como explica Paulinho, no que toca a chorinhos instrumentais, não só porque é a onda do momento, mas porque o regional, desde 1971, se dedica ao gênero, usando inclusive um violão de sete cordas. Baby Consuelo, apesar dos dois nomes estrangeiros que diz ser a sua cara, define-se como ‘brasileiríssima’. E, justamente por isso, destaca p choro ‘Brasileirinho’ como a interpretação que mais reflete seu temperamento, seu pique. - Além de tocar vários instrumentos de percussão, canto diversas músicas, entre eas ‘A Lágrima’, de Pepeu e Galvão, e ‘Ziriguidum’, que são bem balançadas. Sempre danço muito enquanto canto, porque a minha dança é o meu momento, é a minha expressão corporal, totalmente criativa. Eu danço conforme a música.
Galvão, que é o letrista das músicas, mostra que o conjunto sofreu modificações durante a carreira, procurando cada vez mais aproximar-se das coisas brasileiras. - Fomos influenciados por Jimi Hendrix e Janis Joplin, vultos dessa geração. Mas, aos poucos, fomos acrescentando outras coisas, como o choro, o trio elétrico, o samba. As coisas brasileiras estavam escondidas, naquela época, e foi necessária esta influência. No nosso primeiro LP, ‘Ferro na Boneca’, tínhamos um samba, apesar de sermos contra. Mas ele nos venceu. Não somos nacionalistas, mas em algum ponto somos verde e amarelo. - Sempre procuramos responder ao momento, com o grau de consciência relativo a esse momento. Somos vivos e estamos sempre mudando. Mas essas mudanças não quebram a característica Novos Baianos, em qualquer sentido. Recentemente, os Novos Baianos mantiveram um íntimo contato com Art Blakey e seus músicos, para os quais tocaram quatro horas de chorinho. O conjunto pretende tocar nos Estados Unidos, o que é um sonho antigo, embora não haja nada de concreto. O grupo já tem acertada uma participação em televisão, provavelmente no ‘Fantástico’, e está planejando a gravação de um novo disco, embora , como explica Paulinho, sem saber como, quando e onde:
- LP é uma coisa muito trabalhosa, e só queremos gravar outro depois de mostrar bem o último. É muito difícil gravar um disco, principalmente quando somos nós que fazemos toda a divulgação. Nesta parte, o Brasil é muito devagar.” A matéria ainda traz um box, complementando o texto: “Segundo o manager do conjunto, Carlos Eduardo Caramez, os Novos Baianos constituíram uma firma para poder reivindicar uma série de direitos que estão irregulares, principalmente quanto ao direito autoral que, além de irrisório, não é recebido desde o carnaval. Neste show, além de várias composições de Jorginho, Pepeu e Galvão, como ‘Praga de Baiano’, ‘Vai ter que Calçar a Calça e Vai Ter que Sapatear’ e ‘Tico-Tico Mapiou’, o grupo canta também músicas de outros compositores, como Ari Barroso e Chico Buarque. O regional continua com a mesma formação: Baby Consuelo (vocal e ritmo), Pepeu (direção musical, guitarra e bandolim), Jorginho (cavaquinho e bateria), Baixinho (tumba e bateria), Charles (prato, percussão e dança), Bola (bongô e ritmo), Galvão (direção artística e letras), Gato Félix (coreografia e produção) e Salomão (engenheiro de som).”

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