Em 1973 os Mutantes passavam por mudanças. Após a saída de Rita Lee, a banda trazia em sua formação os remanescentes Sérgio, Arnaldo, Liminha e Dinho. A nova proposta da banda era apresentada para seu público e na ocasião a revista Pop trazia uma resenha de um show da banda realizado no Teatro Tereza Raquel, no Rio, escrito pelo crítico Wladimir Tavares de Lima:
" - Não queremos mais só encher a barriga do público com som. Nossa jogada agora é fazer as pessoas pensarem um pouco depois do show terminado, é fazer elas irem para casa perguntando para elas mesmas: será isso mesmo?
Pra quem viu a recente e curta temporada dos Mutantes no Teatro Tereza Raquel (Rio), foi exatamente isso que aconteceu. Quem vem acompanhando toda a carreira do conjunto, desde Caminhante Noturno, o primeiro sucesso, pôde sentir toda a transformação e a evolução da estrutura musical, começando pelos instrumentos. Além das tradicionais guitarras, baterias, baixo e piano, o grupo acrescentou ao som a tabla e a cítara, instrumentos indianos, mais celo elétrico e um melotron, formando um equipamento da pesada. São 2.600 watts de potência, jogados ao público através de dez amplificadores transistorizados, uma verdadeira loucura de som. No repertório, quase tudo é coisa nova: Ae Z, Você Sabe o Quanto Andei, Louco, Uma Pessoa Só, Jesus Come Back, e aquele tremendo rock que Elvis gravou há uns quinze anos, Jailhouse Rock (quase tudo foi gravado para entrar no próximo LP do grupo, um álbum duplo que vai pintar no começo de maio).
Sem Rita Lee, os Mutantes agora são quatro: os irmãos Arnaldo e Sérgio, mais dois caras que acompanham o trabalho do conjunto desde a formação: Liminha (baixo) e Dinho (bateria). Em meio a um clima quase fantástico, criado em grande parte com o efeito da projeção de luzes e bolhas coloridas que correm pelo palco durante todo o show, os quatro estraçalham os intrumentos e conseguem aquele poder mágico de ir deixando a plateia cada vez mais ligada, todo mundo vibrando e exigindo mais som, mesmo depois de uma violenta e agitada sessão de rock de quase duas horas.
Partindo de uma total suavidade, tirando na introdução um som muito parecido aos prelúdios de Bach ou às sonatinas de Mozart, Arnaldo distorce a sua Fender e num segundo vira uma fera, atacando rocks dos mais alucinados, fazendo solos incríveis com uma guitarra que às vezes parece até que fala com o público. E com a cítara - quem viu tá sabendo - ele também está demais, descola um som dos mais incríveis. Sérgio dá banho no melotron e no piano, às vezes até tocando os dois ao mesmo tempo, além do celo elétrico e da viola. Dinho, além da bateria, está tocando tabla incrivelmente bem, e Liminha, no baixo, faz toda a cozinha do som com o maior talento e bom gosto. Sem querer soltar longos papos em cima do seu trabalho atual ('é muito melhor fazer do que explicar o nosso som'), os Mutantes estão interessados é em ligar a garotada no som puro do rock, muito mais do que na autopromoção."
O único vacilo do texto é que o guitarrista é o Sérgio, e não o Arnaldo.
ResponderExcluirSabem dizer a data do artigo para se poder ter uma melhor idea de quando foi exatamente esta temporada dos Mutantes no Tereza Rachel (quantos dias de qual mes)?
ResponderExcluirMeninos...Eu ví!!! Uma sonzeira infernal! Quase caí do girau em cima do Arnaldo...Muita doideira. Mesmo.
ResponderExcluirLegal o testemunho de alguém que estava lá de corpo presente.
ResponderExcluirUm abraço
Seria possivel alguem ter filmado em super8 isso na época, ou mesmo gravado o audio num gravador simples?
ResponderExcluirLegal,pena que o grupo,sem Rita,não teve vida longa.
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