Nos anos 80 o rock brasileiro vivia seu período de maior presença na mídia, e uma série de bandas, movidas pelo espaço que se abria e o interesse das gravadoras em investir em novos produtos, surgiam a cada dia. Com isso, o panorama do rock começava a se tornar repetitivo, com muitas bandas imitando umas às outras, e os executivos das gravadoras cada vez mais ávidos para encontrar produtos rentáveis para embrulhar e distribuir para seu público-alvo. Mas nem tudo que surgia era descartável e imitação. O mercado musical sempre se renova, e algo de novo e criativo sempre há de aparecer, pois a renovação também faz parte da engrenagem que move a máquina da indústria cultural.
E foi assim, que em meados da década de 80 surgiu uma banda que trouxe um toque de criatividade e renovação no cenário do rock brasileiro: Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros. De uma hora pra outra, o hit Kátia Flávia invadiria as rádios, e traria a linguagem caótica e visual, quase cinematográfica, usada por Fausto Fawcett, que na ocasião já era um assíduo frequentador do circuito alternativo do Rio. Já na época, a cantora Fernanda Abreu, ainda uma das vocalistas da Blitz, participava de algumas performances dos Robôs Efêmeros pelo circuito de bares por onde se apresentavam. Mais tarde, já em carreira-solo, Fernanda não dispensaria a parceria musical com seu velho companheiro dos velhos tempos, e seu hit Rio 40 Graus é um exemplo do acerto em trabalhar com Fausto. Mais tarde, Fernanda regravaria Kátia Flávia. Considerada como um hip-hop, por causa de sua enorme letra e uma melodia minimalista, essa música se tornou um sucesso estantantâneo, impuloionado por ser tema da novela global O Outro. Na época uma matéria na revista Roll diria:
"Kátia Flávia é um grande sucesso nas rádios cariocas. Acompanhado por uma batida monótona, que qualquer tecladista poderia ter concebido sem nenhuma ajuda humana, Fawcett declama um interminável e 'bem-humorado' rap onde a única coisa compreensível é a repetição da palavra 'calcinha'. Lingeries à parte, a única explicação possível para o sucesso da canção reside no fato de que ninguém entende o que canta Fawcett, já que a qualidade musical está ausente desse sub-produto pop."
Como se vê, a crítica não entendeu bem a proposta do trabalho de Fawcett e sua banda. Seu primeiro disco, lançado pela multinacional WEA, não se baseava somente no sucesso de Kátia Flávia. O disco, como um todo, trazia uma unidade, são crônicas urbanas e futurísticas, tendo como pano de fundo o bairro de Copacabana e sua multiplicidade de personagens e histórias que a vida noturna do bairro oferece, e que o autor tão bem conhece, e sabe explorar em seu texto.
A crítica, que se espanta com tudo que não é óbvio, muitas vezes não sabe distinguir aquilo que é criativo e novo e meras tentativas de parecer diferente, porém sem demonstrar talento. A mesma crítica da revista diz em outro trecho: "Essa análise conceitual de Fawcett e seus autômatos se explica no seu próprio trabalho.Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros não merecem uma análise musical, pois não fazem música. Transformados em grupo musical na onda do 'tudo é rock', conseguiram gravar seu elepê. Talvez essa seja a solução para o mercado fonográfico: eliminar os grupos musicais. O próximo a gravar poderia ser um time de futebol ou uma companhia de dança."
Como se vê, a crítica burra e surda para o que é anti-convecional e foge de certos padrões é algo que vem de longe. Não sei se o crítico parou para analisar o trabalho, entendeu a proposta e assimilou o conteúdo da obra, a ponto de afirmar que "não fazem música". O que sei é que Fausto Fawcett deu uma chacoalhada que o mercado do rock precisava naquele momento, independente de ser compreendido ou não.
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