domingo, 11 de dezembro de 2011
Preciosidades em Vinil: Orós - Fagner
Um grande disco que possuo, não só em vinil, como também em cd é Orós, de Fagner. Lançado em 77, esse disco representou uma ruptura no trabalho de Fagner, e até hoje é um trabalho diferenciado em sua carreira, pelo experimentalismo e ousadia. Tendo Hermeto Pascoal como arranjador e diretor musical (ao lado do próprio Fagner), Orós traz músicos de expressão, como Robertinho de Recife (guitarra), Paulinho Braga (bateria), Chico Batera (percussão), Nivaldo Ornelas (sax), Márcio Montarroyos (trumpete e flugelhorn), Dominguinhos (acordeon), Mauro Senise (flauta), além de Hermeto Pascoal e seu grupo. Na época de seu lançamento, a jornalista Ana Maria Bahiana fez a seguinte resenha do álbum para o Jornal de Música:
"O difícil do progresso é a transição. Insatisfeito em ser apenas mais um compositor cearense ligado ao formato 'canção popular', Fagner foi buscar em Hermeto as luzes e forças necessárias para progredir. Passo interessante na atitude, na inquietação , mas perigoso nos resultados. Hermeto, como se sabe, é um superfuracão albino, estraçalhador de moldes convencionais, catapulta tão possante quanto destruidora, depende da resistência do que é projetado. E a música de Fagner, ainda ligada ao feitio canção, quase se espatifa toda e, como o açude que dá nome ao disco, transborda. No mau sentido. O que Orós poderia ter sido, integralmente - e o que a música inteira de Fagner, inteira poderá ser se ele souber segurar firmemente o barco - está em algumas faixas brilhantes: Romanza, uma das derradeiras parcerias Fagner/Belchior (com Fausto Nilo também) parte de uma base nordestina de galope e, por artes de Hermeto, explode em todas as direções, com a voz cortante de Fagner duelando com o sitar diabólico de Robertinho de Recife; e Cebola Cortada, de Petrúcio Maia e Clodo, onde Hermeto consegue conciliar seus impulsos amazônicos com os limites da canção de amor, coisa que Fagner certamente sabe cantar. Há também esboços interessantes, como a faixa título, bem mais hermética que fagneriana, e Fofoca, composta pela dupla no estúdio, com um uso inteligente de timbres de voz e dublagens sucessivas - coisa que está colocada, com perfeição em Romanza."
Como se vê em sua crítica, a jornalista faz restrições ao álbum, justamente pelo aspecto ousadia, que citei no início do texto. Creio que algumas obras só são compreendidas integralmente, com o distanciamente que o tempo sabiamente traz.
Algumas faixas não são citadas na crítica, e que ouvidas hoje, se constituem em algumas das melhores gravações da carreira de Fagner, como Cinza, Flor da Paisagem e Epigrama nº 9 (poema de Cecília Meireles musicado por Fagner). Não há uma música sequer que pode ser considerada fraca, e o transbordamento a que se refere a jornalista, da música de Fagner, que ela ressalta ser no mau sentido do termo, eu colocaria justamente na condição contrária: é um transbordamento de criatividade, de ousadia e musicalidade, coisas que andam tão em falta hoje em dia.
Posso dizer que Orós é um grande disco, e que hoje, 34 anos depois de seu lançamento, pode ser mais compreendido do que na época.
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Um grande álbum mesmo. Há uma versão menos experimental de "Cebola cortada" lançada pelo Clodo com seus irmãos Climério e Clésio também em 1977, no álbum São Piauí. Pra mim, consegue ser ainda mais potente que a versão dilacerante do Fagner, apesar de haver uma enorme distância entre o 'talento' do vocal do Fagner para o dos irmãos piauienses.
ResponderExcluirNão conheço essa versão dos irmãos piauienses. Obrigado pelo comentário.
ResponderExcluirEu acho que só conheço ''Cebola Cortada'',muito boa,por sinal.
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