Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 4 de março de 2010

Severina Xoque-Xoque - Raul Seixas e Paulo Coelho


Um fenômeno interessante é quando alguma coisa que faz muito sucesso ou ganha destaque na mídia, de forma positiva ou negativa, acaba gerando sub-produtos, geralmente satíricos. As antigas marchinhas de carnaval são um bom exemplo. Uma novela de sucesso, um fato político ou um personagem (real ou fictício) acabava virando uma marchinha no carnaval seguinte. O mesmo pode acontecer com alguma música de sucesso, que pode gerar outras.
Um exemplo é um grande sucesso musical de 1975, Severina Xique-Xique, cantada por Genival Lacerda. A música contava a estória de uma tentativa de golpe do baú e o refrão, que até hoje é lembrado diz: "Ele tá de olho é na butique dela". A música fez tanto sucesso que até virou filme, que por sinal foi gravado em Campos, e que trazia como um dos atores, que fez. Ele mesmo, o político Garotinho. Outro sub-produto foi uma música composta e gravada por Paulo Diniz, chamada Severina Cooper. Outra música satírica baseada nesse grande sucesso foi composta por Raul Seixas e Paulo Coelho, e felizmente, nunca gravada, permanecendo inédita. Digo que felizmente não foi gravada porque é uma grande bobagem, bem aquém da obra genial da dupla. Acredito que nunca será gravada, apesar de trazer a grife musical de Raul Seixas e Paulo Coelho, pelos seguintes motivos:
1- Por se tratar de uma sátira a Severina Xique-Xique, perdeu o sentido pelo fato da música original estar fora da mídia, apesar de uma simples mudança no título resolver a questão
2- A letra perdeu a atualidade, e se tornou datada por falar em desquite, já que na época não havia divórcio no Brasil. O projeto do divórcio só seria aprovado pelo Congresso em 1977. Hoje ninguém mais se desquita.
3- Provavelmente a melodia feita por Raul se perdeu, caso contrário, se houvesse alguma fita cassete com Raul cantando, com certeza já teria sido lançada, após passar por algum processo de melhora na qualidade do som.
4- Paulo Coelho com certeza não autorizaria alguém a gravar a música.
5- A música é uma grande bobagem.
Leia a letra, e veja se não tenho razão:

Severina Xoque-Xoque

Me casei com uma dona com uma cara de jumento
Transformei no meu trabalho este tal de casamento
Eu só não contei pra ela que eu era um cabra fedorento
Mas eu não tomava banho nem de tarde nem de dia
Tinha medo de chuveiro que nem gato de bacia
O que eu gostava mesmo era de uma boa porcaria
No início do casório a mulher não reclamou
Eu mandava, ela fazia, em nome do nosso amor
Fingindo que não cheirava, aguentava o meu fedor
Nem o porco que eu criava aguentava com o meu cheiro
Fez as malas e foi embora, se mandou lá do chiqueiro
A gambá pediu as contas, foi golpe derradeiro
Eu passava o dia lendo meus livrinhos de cordel
Toda a noite eu rezava para o meu papai do céu
Não usava sabonete, nem escova e nem papel
Até que depois de um ano se passou um ano inteiro
A mulher não aguentou mais, se mudou pro galinheiro
Eu pedi desquite a ela e fiquei com o dinheiro
Pra vocês agora eu provo como é fácil enriquecer
É casar com mulher rica e depois deixar feder
Ela pega e vai embora e deixa o ouro com você

Um comentário:

  1. Realmente a letra é uma grande bobagem. Mas não ficaria espantado dela virar sucesso da noite para o dia na mão de um Latino ou algum Mc Sapão do Rio de Janeiro...

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