domingo, 21 de março de 2010
Memórias Esportivas Parte 1
Durante dois anos de minha infância, entre os 8 e os 9 anos, eu frequentava diariamente os treinos dos profissionais e juvenis do Campos Atlético Associação, o “Roxinho do Parque Leopoldina”, levado por meu avô. Quando comecei a acompanhar os treinos eu ainda não tinha um clube de minha preferência em Campos, embora tivesse uma certa simpatia pelo Goitacaz. Mas aos poucos, sob a influência do meu avô, me tomei de simpatia pelo “roxinho”, e quando me dei conta já era um torcedor do Campos.
Era engraçado ser torcedor do Campos. Era assim como um torcedor carioca torcer pelo América ou Bangu. Os amigos sempre estranhavam minha preferência. Ainda me lembro de alguns craques do time principal; o goleiro Jorge Uébe, Neném, Bitiu, Grilo, Arruda, Tatu, Luis, Carlinhos, Ronaldo.
Algumas partidas ficaram em minha memória. Uma vitória inesquecível foi contra o Goitacaz. Campos 2x1, com os dois gols marcados por Tatu, um negão forte, um pouco acima do peso, camisa 10. Tatu virou herói pra mim naquela tarde. Lembro-me de ter comentado com meu pai, que se fosse formada uma seleção campista, a camisa 10 tinha que ser dele. Havia um certo exagero nessa conceituação, mas o seu feito heróico em minha visão infantil o credenciava a figurar entre os grandes craques de nosso futebol. Depois daquele jogo não me lembro de ter visto outro gol de Tatu, mas aqueles dois que ele marcou contra o “Azul da Rua do Gás” foram suficientes para colocá-lo na galeria de minhas memórias esportivas.
Na época, as duas grandes forças do futebol campista eram o Americano e o Goitacaz (daí a importância daqueles 2x1). Os dois times eram uma espécie de Cruzeiro e Atlético Mineiro, ou Grêmio e Internacional, ou seja, os campeonatos campistas quase sempre eram decididos pelos dois clubes, que eram bem superiores aos demais. Às vezes o Rio Branco, considerado a terceira força do futebol campista corria por fora – chegou a decidir com o Americano em 72, num jogo duro em que o Americano ganhou na decisão por pênaltis. Havia também os times formados nas usinas de açúcar: o Cambaíba, o Paraíso e o Sapucaia.
Houve dois jogos dos infanto-juvenis que também ficaram na memória. O time de infantos era formado por garotos com uma faixa de idade intermediária entre os “dentes-de-leite” e os juvenis (hoje chamados de juniores). Os jogos dos infanto-juvenis eram disputados normalmente nas preliminares dos jogos dos juvenis. Lembro-me de uma partida entre Campos e Paraíso, quando o Campos impôs no adversário uma goleada histórica por 9x1, com direito até a gol que não entrou. Eu explico: No primeiro tempo, uma bola foi chutada por um jogador do Campos contra o gol adversário, e o tiro acertou a rede, pelo lado de fora. Porém, como a rede não estava bem fixa no chão, a bola acabou entrando por debaixo dela, e o juiz, mal posicionado, validou o gol. Nas categorias inferiores não havia bandeirinhas. O time do Paraíso partiu inteiro pra cima do juiz, que não voltou atrás. Como dizia o antigo locutor esportivo Waldir Amaral, “Não adianta chorar, a nega ta lá dentro!”. Lembro-me que no intervalo um torcedor perguntou ao autor do gol polêmico se a bola havia entrado, e ele confirmou que não. Voltando para o segundo tempo, o time do Campos continuou dando um show de bola, e fechou a partida com o placar histórico de 9x1.
Alguns meses depois, no segundo turno do campeonato, novamente Campos e Paraíso se enfrentavam na categoria infanto-juvenil. Quando os times entraram em campo me lembrei daqueles 9x1, imaginando que jamais veria um placar tão elástico como aquele. O Campos dominava a partida, e os gols iam saindo naturalmente. Mais uma goleada à vista. Placar final: Campos 9x1. A mesma goleada, desta vez com todas as bolas realmente entrando.
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