Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

David Bowie Festeja Seus 50 Anos - Jornal do Brasil (1997)

2016 ficará marcado certamente pelo grande número de perdas no mundo artístico. E o primeiro grande nome de impacto na música a falecer no ano, foi sem dúvida David Bowie. Um dos artistas mais marcantes na história do rock, figura fundamental quando se fala no rock produzido nos anos 70, Bowie, que ganhou o apelido de 'camaleão do rock', por ter mudado de vertente várias vezes, assumindo diferentes personas e revolucionado o rock, não só com sua música vibrante, mas com seu visual contestador, sempre será lembrado.
Na edição de 12/01/97, quatro dias depois de ter completado 50 anos, o Jornal do Brasil trazia uma matéria, assinada por André Barcinski, sobre um grande show em Nova Iorque, onde Bowie festejou seu aniversário, e recebeu no palco vários convidados. Segue abaixo a matéria:
"David Bowie celebrou seu meio século de vida com um inesquecível show no Madison Square Garden, na noite de quinta-feira, em Nova Iorque, com direito a bolo, coro de Parabéns pra você e participação de amigos como Lou Reed, Foo Fighters, Smashing Pumpkins, Sonic Youth, Robert Smith (The Cure) e Frank Black. As quase 20 mil pessoas que lotaram o ginásio puderam ouvir músicas que  o Camaleão não tocava há muito tempo, e ainda colaboraram para uma boa causa: todo o dinheiro arrecadado nas bilheterias foi doado para uma associação que cuida de crianças carentes.
Ficou claro, desde o início, que Bowie não pretendia fazer um show exclusivamente nostálgico. Ele tocou na íntegra seu novo álbum, Earthling, acompanhado da mesma banda que gravou o CD: Reeves Gabrels (guitarra), Zachary Alford (bateria), Mike Garson (teclados) e Gail Ann Dorsey (baixo). Depois de abrir com a dançante Little Wonder, ele chamou ao palco seu primeiro convidado, Frank Black (mais conhecido como vocalista do extinto grupo Pixies, banda predileta de Bowie no fim dos anos 80) e com ele cantou os clássicos Scary Monsters e Fashion.
Apesar de o público ainda não conhecer bem as músicas do novo CD, lançado há apenas algumas semanas, a reação às novas canções foi excelente. Todo mundo dançou com as sacolejantes Dead Man Walking e Teeling Lies, faixa que Bowie, em uma estratégia de divulgação inédita, lançou na internet antes de o CD chegar às lojas. O Foo Fighters, banda de David Grohl (ex-Nirvana) subiu ao palco para tocar a nova Seven Years in Tibet. Foi uma homenagem de Bowie ao Nirvana, banda que fez uma respeitosa versão para sua música The Man Who Sold The World.
Logo depois do Foo Fighters foi a vez de Robert Smith, líder do The Cure - 'Uma das melhores bandas de todos os tempos', acariciou Bowie. O cantor, de cabelos desgrenhados, fez um dueto com seu mestre na dançante Battle for Britain (The Letter) e depois cedeu o palco para o Sonic Youth, outra das bandas prediletas de Bowie. Em seu típico estilo barulhento, detonou uma versão ensurdecedora para a nova I'm Afraid of Americans, uma irônica crítica à massificação cultural americana. Bowie encerrou a primeira parte do show com  a recente Looking for Satelliites e com dois sucessos antigos: Under Pressure - música ruim que Vanilla Ice conseguiu piorar - e Heroes
Depois de um rápido intervalo, Bowie voltou ao palco e apresentou o artista que, depois dele, todos estavam esperando. 'E agora, com vocês, o verdadeiro rei de Nova Iorque...Lou Reed!', anunciou. A plateia foi ao delírio com a aparição do mais nova-iorquino dos roqueiros, vestido, como sempre, de preto da cabeça aos pés. Foi a melhor parte do show. Bowie e Reed, velhos companheiros de balada - e de cama, diga-se de passagem nos anos 60 e 70, fizeram uma seleção preciosa de clássicos da época, começando com a pesada Queen Bitch.
Bowie fez, depois, uma homenagem a Reed, cantando três de seus clássicos: Waiting For The Man, Dirty Boulevard e White Light, With Heat. Quem conhece a carreira dos dois sabe da importância histórica deste encontro: dois dos artistas mais radicais do rock, juntos no palco pela primeira vez em mais de 20 anos. Só ficou faltando Iggy Pop que, apesar dos pedidos da plateia, ficou observando tudo da primeira fila.
Assim que Reed saiu do palco, Bowie e a banda emendaram Moonage Daydream. No telão surgiram imagens do Camaleão vestido de Ziggy Stardust, seu alter-ego andrógino do início dos anos 70. Nessa altura tudo era festa. Bowie recebeu um bolo com 50 velinhas e ouviu Parabéns pra Você, enquanto fãs jogavam presentes e buquês de flores no palco.
A estrela da noite ainda estava agradecendo os presentes e aplaudindo quando subiu no palco Billy Corgan, o cantor careca do Smashing Pumpkins. Juntos eles cantaram All The Young Dudes e Jean Genie, já com o público todo de pé e as luzes acesas. O final foi apoteótico: Bowie, sozinho ao violão, cantou Space Odity, sua divagação sobre viagens espaciais. Todo mundo saiu do Madison Square Garden torcendo para estar ali, novamente, na festa de 60 anos do ídolo. "
 

2 comentários:

  1. Eu me lembro muito bem de quando esse show foi realizado. Fiquei maluca com a notícia e não via a hora de poder assistir a tudo aquilo. Esse ano, infelizmente, farão uma homenagem a ele que completaria 70 anos no domingo 08/01/2017. A morte dele foi a primeira má notícia que recebi ano passado. Estava me aprontando para trabalhar quando minha irmão ligou insistentemente por duas vezes para me dar a notícia, comprovada pelos jornais.
    Grande homem, grande cantor! Só os deixa saudades
    Beijo Márcio

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  2. Oi, Késia. Que bom ver um comentário seu em meu blog. Realmente a morte de Bowie foi um grande abalo no mundo da música. Essa matéria sobre sua festa de 50 anos eu achei legal para homenagear esse grande artista. Beijo

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