Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Rogério Duprat - Gênio Tropicalista

O maestro e arranjador Rogério Duprat (1932-2006) é o grande responsável por uma boa parte do que o Tropicalismo representou em termos de revolução e evolução para o panorama da música brasileira. Sem seus arranjos o movimento talvez até tivesse a projeção que teve, porém com certeza seria bem menos impactante. Músico de formação erudita, porém com olhos e ouvidos abertos para todas as tendências, Duprat foi o homem certo na hora e lugar certos, quando se juntou ao grupo tropicalista para vestir com seus arranjos as ideias musicais e estéticas de Caetano, Gil, Mutantes e Tom Zé. Abaixo, trechos de uma matéria com o maestro,  escrita por José Márcio Penido e publicada em 1975 no Jornal de Música, que vinha encartado na revista Rock, A História e a Glória:
"Rogério Antônio Silvestre e Silva Duprat, carioca de berço e paulista em tudo mais, ficou famoso como o maestro do tropicalismo. Ele entendia a letra, a música, a postura, a proposta e o guarda-roupa de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes. E orquestrava tudo isso.
Orquestrar é uma palavra que lembra violinos e casacas. Mas na capa do disco Tropicália, lançado em 1968, o maestro aparecia segurando um penico com a dignidade de uma chávena.
Sete anos depois, na soturna primavera paulista de 1975, o maestro Rogério Duprat fornece, a quem deseja encontrá-lo, o endereço e o telefone do Estúdio Vice-Versa, no bairro de Pinheiros. Lá ele fica dia e noite, gravando, gravando. Gravando o que? Jingles diversos. Compre isso, tenha aquilo, seja outro. Seus cargos: coordenador musical geral e diretor de estúdio. 'Isso dá feijão', ele resume, com um sorriso. Quem, como ele, aprecia humor negro, entende o resumo e o sorriso.
Dia e noite às voltas com uma tecnologia caríssima, Duprat sabe quanto é difícil ser músico hoje. Entende o drama dos grupos de rock. Mas anuncia, olhinhos brilhando, um trabalho que vem aí: um disco do Terço com a Orquestra Sinfônica de São Paulo, não sei se a Estadual ou a Municipal. O que, aliás, pensando bem, não faz muita diferença.

Pergunto às sensibilíssimas antenas de Rogério Duprat se elas estão detectando algum sinal de movimento musical. 'Estou ansiando por isso há cinco anos e o que vejo é uma coisa amorfa, tímida, imprecisa'. O maestro parece de acordo com o consenso geral pelo menos num ítem: está tudo em compasso de espera Alguma coisa tem que explodir. Como e quando isso não se sabe. Ele aguarda o momento com fé,. 'Eu  queria que fosse uma retomada do jovem como elemento atuante na sociedade. Houve tentativas de ridicularizar a atuação dos jovens da década passada. 'Os tolos anos 60', dizem alguns detratores. Mas isso é uma investida furada e frustrada. Eu gostaria que essa moçada nova que vem aí, agora,, dissesse o que a outra geração representou para eles. E assumisse o lugar da rapaziada que foi podada'."

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