Palavras Domesticadas

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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Clementina de Jesus, por Gisa Nogueira

"A primeira vez que vi Clementina, no palco do Teatro Opinião, tive a impressão de estar diante de um documento vivo - a força e a presença negra na formaçãso da cultura brasileira. Sua voz rouca e gutural me fazia viajar em seus cantos de trabalho, aprendidos com sua mãe, como ela me contava. Tudo isso em uma época não tão gloriosa, mas certamente determinante da nossa cultura.
Lá pelos idos dos anos 70 fui convidada por Jorge Coutinho para fazer parte do elenco fixo da Noitada de Samba do Teatro Opinião, onde se apresentava Clementina. Daí nasceu uma amizade de muito respeito e admiração e pude desfrutar de alguns raros momentos de aprendizado e muito prazer.
Moradora da Rua Acaú, no Engenho Novo, em uma casinha simples e de poucos cômodos, com seu marido Pezão, Clementina era uma verdadeira rainha do lar. Diversas vezes provei de seus quitutes maravilhosos. Quando voltávamos para casa, após o espetáculo do teatro - eu morava no Méier - de carona no fusquinha do amigo José Carlos Rego, Clementina vinha nos contando histórias engraçadas, acontecidas com ela, algumas de uma ingenuidade deliciosa. Não tive oportunidade de viver a boemia de Clementina.
Bela e soberana em seu traje branco, Clementina ganhou de mim uma simples homenagem em forma de samba. Fiz para ela Clementina de Jesus (Clementina de Jesus nascida/Obra e graça da raça e da cor/Veste branco, sorri para a vida/Que nem sempre lhe sorriu/Nem sempre lhe deu amor), gravado por Beth Carvalho. Foi o jeito de lhe falar doi meu carinho."

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