"A vida de Paulo Leminski foi uma procura intensa, quase desesperada, de ser o que realmente se é. Precoce, o guri de Curitiba descobriu que era um poeta, talvez, como ele afirmava, 'por um erro na programação genética'. Seja como for, Leminski aceitou a missão com a resignação de um santo e com o orgulho de um samurai. 'Não discuto/com o destino/o que pintar/eu assino'. Assim, o 'samurai malandro', como o nomeia a ensaísta Leila Perrone-Moisés, conduziu a vida de poeta errante.
Atravessou os anos 1960 entusiasmado com o rigor e com a ruptura proposta pela poesia concreta. Ficou impressionado também com os bárbaros baianos no final daquela década, quando o movimento tropicalista retomou o princípio da antropofagia do poeta Oswald de Andrade. Experimentou uma aproximação com a música popular. Suas letras foram gravadas por Moraes Moreira, Caetano Veloso, Itamar Assunção e Ângela Maria. Na década de 1970, personagem constante de revistas e publicações alternativas, se tornou um dos ícones da geração que ficou conhecida como a dos 'poetas marginais' ".
Assim começa o texto de apresentação da edição especial da série "Rebeldes Brasileiros" da revista Caros Amigos, onde Paulo Leminski foi destacado. O texto ressalta a ligação de Leminski com as vanguardas culturais brasileiras, como o Modernismo, através do Movimento Antropofágico da década de 1920, a poesia concreta, a partir dos anos 50 e o Tropicalismo, nos anos 60, que marcaram a vida cultural do jovem poeta curitibano.
Em 1968, com a explosão da Tropicália, Leminski encontra a forma de linguagem que buscava. Em sua biografia, "O Bandido Que Sabia Latim", o autor Toninho Vaz destaca a forte influência do movimento tropicalista, deflagrado por Gil e Caetano no Festival de Música da TV Record nos interesses estéticos de Leminski. As letras fragmentadas dos dois baianos, mostradas em Domingo no Parque e Alegria, Alegria, além do som desafiador das guitarras, no templo sagrado da MPB, seduziu e norteou o rumo poético do jovem Leminski.
Inspirado nos movimentos vanguardistas de música e poesia, representados pelos poetas concretistas e pela música revolucionária dos tropicalistas, Leminski cria no Paraná o Grupo Ásporo, em cuja foto acima, ele, o primeiro a partir da esquerda em foto de 67, aparece ao lado dos amigos Lélio Sottomaior e Ivan Costa. Os três integrantes do movimento, criado em Curitiba, publica um manifesto no jornal Diário do Paraná, onde combatem "o provincianismo cultural de Curitiba, uma cidade anti-radicais, onde ninguém partem para a pesada em termos de engajamento intelectual".
Sua ligação com a música passa a ganhar maior intensidade a partir do início dos anos 70, quando começa a escrever letras, principalmente em parceria com a banda de rock A Chave, de Curitiba. Essa parceria gerou um projeto que Leminski intitulou de "Em Prol de Um Português Elétrico", que segundo ele, tinha por meta "atingir uma estética através de uma tecnologia".
Mas foi a partir de 1977 que suas canções, que compunha com seus vários parceiros, passam a ser gravadas por artistas de renome, como Moraes Moreira, Caetano Veloso, Itamar Assunção, Paulinho Boca de Cantor, A Cor do Som, MPB4 e o grupo curitibano Blindagem. Mas sem dúvida o forte de sua obra vinha através de seus livros de poesia, como Caprichos e Relaxos, Distraídos Venceremos e La Vie en Close, dentre outros.
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