Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Secos & Molhados - Um Fenômeno Pop dos Anos 70

Certos fenômenos são difíceis de explicar. Eles simplesmente acontecem, extrapolando regras e previsões. O grupo Secos & Molhados é um exemplo. Não creio que o os membros do grupo imaginassem o furor que causariam no mercado musical quando lançaram seu primeiro LP, em 1973. Esse disco se tornou um marco em termos de sucesso e execução nas rádios. Músicas como O Vira, Sangue Latino, Assim Assado, Rosa de Hiroshima, Fala e outras invadiram as rádios e eram executadas, acredito que sem uma campanha especial de marketing. Foi tudo muito espontâneo, muito diferente de hoje em dia, quando determinados artistas e grupos são produtos fabricados e jogados no mercado para virarem ídolos de massa.
Os Secos & Molhados, ao contrário, conquistaram sua enorme fatia no mercado por produzir algo novo e surpreendente até então. A figura andrógina e transgressora de Ney Matogrosso chocava os padrões conservadores da sociedade, mas ao mesmo tempo atraía atenções gerais de diferentes classes sociais e culturais, razão pela qual o primeiro disco do grupo alcançou vendagens surpreendentes. Mesmo com todo o sucesso, e o dinheiro entrando, os Secos & Molhados duraram pouco. A relação entre os membros da banda, principalmente entre Ney e João Ricardo, azedaram de vez após o segundo ter tentado se apossar da maior parte dos lucros advindos daquele enorme sucesso, através de um escritório montado com seu pai para defender questões de direitos e finanças, onde aos outros dois membros, Ney e Gerson Conrad, caberia uma parte menor dos ganhos. Em janeiro de 1974, no auge do sucesso, a revista Pop trazia uma matéria com o grupo:
"Para eles, cada show é um ritual. Ney Matogrosso pinta o rosto alongando a linha dos olhos até a testa. João Ricardo cobre com tinta branca a cara toda, e Gerson desenha um coração ao lado do nariz. Já está tudo pronto: mais uma vez os Secos & Molhados vão cantar para uma casa lotada de gente que vibra com o grupo que Caetano Veloso definiu como 'uma das coisas mais importantes que já aconteceram na música brasileira'. E a crítica também tem elogiado muito o trabalho musical que eles fizeram em cima de poemas de Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira e Cassiano Ricardo. Mas que é quem nos Secos & Molhados? Os compositores João Ricardo (harmônica de boca) e Gerson Conrad (violão) acompanham as incríveis vocalizações de Ney Matogrosso, além de mais quatro caras que fazem um som da pesada: Marcelo Frias (bateria), Sérgio Rosadas (flauta tranversa e ocarina), John Prado (guitarra) e Willy Verdaguer (contrabaixo).
Em 1971 eles fizeram a música para a peça Corpo a Corpo, de Antunes Filho. Mas foi depois da primeira apresentação em público, na Casa de Badalação e Tédio (São Paulo), que o grupo estourou. O primeiro LP já vendeu 100.000 cópias e continua nas paradas (Sangue Latino, Rosa de Hiroshima e Vira são as faixas de maior sucesso). E, renovando-se a cada apresentação, eles parecem dar vida às palavras de Ney Matogrosso: 'Sem regras estabelecidas é bem melhor a gente viver'".

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