Palavras Domesticadas

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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Ednardo Lança Mais Um Disco (1979)

Num período que corresponde ao final dos anos 70 e início dos 80, a música nordestina produzida por artistas como Fagner, Alceu Valença, Zé Ramalho, Vital Farias, Elba Ramalho, Cátia de França e Ednardo, entre outros, vivia seu auge em termos mercadológicos. A gravadora CBS, por exemplo, através do seu selo Epic, contratou vários desses artistas. Em 1979, o cearense Ednardo lançaria pela gravadora um belo disco, que tinha por título apenas seu nome, e que trazia um de seus maiores sucessos - Enquanto Engoma a Calça. Na ocasião a revista Música nº 41, publicada em 1980, faria uma matéria com Ednardo, assinada por Valéria Fontenele e intitulada "A poesia na voz agridoce de Ednardo":
"Em 1973, a gravadora Continental lança o elepê 'Meu Corpo, Minha Embalagem, Todo Gasto na Viagem', onde pela primeira vez aparece Ednardo, juntamente com Rodger Rogério e Teti, como integrantes do Pessoal do Ceará. Em maio de 79 é gravado no estúdio Transamérica, o elepê 'Ednardo', que ficou nada menos que cinco meses retido na Censura Federal que vetara oito faixas. 'Não apresentaram motivo algum para esse veto, tampouco para a queda do veto, com o disco sendo liberado na íntegra e saindo em outubro'. E prossegue; 'O meu prazer de cantar e poetar me deu energia para inventar meus mecanismos de voo, e esse  é o 6º elepê que faz parte de todo operariado artístico de ganhar espaço e voz, ao lado de tantos outros que assim fizeram'.
Ednardo vem desenvolvendo um trabalho - ou uma troca de energia, como ele prefere - a nível de regiões brasileiras, embora muitas vezes em detrimento de sua presença nos eixos que irradiam a cultura brasileira: Rio de Janeiro-São Paulo. 'O Brasil é um país imenso. O que eu quero na realidade é trocar energia, sempre que puder, com um grande número de pessoas. Claro que é a nível mercadológico, onde as gravadoras impõem que você esteja sempre no centro, não funciona muito, mas a nível pessoal é importantíssimo'. O disco está bem colocado nas emissoras de rádio, entretanto, somente neste abril, Ednardo veio divulgá-lo no Rio e São Paulo. De acordo com ele: 'Esse disco é uma panorâmica sobre um trabalho que eu desenvolvi ao longo dessa década de 70. Poeticamente ele fala disso, como musicalmente também. Ele fecha em 12 músicas, de maneira geral, o que eu pretendo como posição diante do que é fazer música no Brasil. Uma verdadeira desmistificação da seriosidade com que procuram vestir a MPB'.
'O relacionamento artista-gravadora é um encontro de duas necessidades. Uma, a do artista colocar, dentro da possibilidade de comunicação, aquilo que ele pensa, aquilo que ele capta da sociedade, como um ser que participa de uma comunidade, de um ambiente, de uma geografia. A outra, a da gravadora, como uma empresa que quer veicular isso aí e auferir lucros monetários dessa necessidade que as pessoas têm entre si de se comunicarem'. À medida que Ednardo discorre sobre determinado assunto, mais presente ainda se torna sua preocupação em se comunicar, em atingir um grande público. 'Atingir um grande público não é a possibilidade que um disco tem de vender muito. Na minha maneira de entender, um grande público é, justamente, a diversificação que você tem de alcançar faixas etárias, agrupamentos sociais e geografias diferentes. Eu sou uma pessoa que me comunico com o grande público. Eu tenho viajado muito e percebo que a minha comunicação tem duas vias, tem o retorno, o feed-back; independente de uma porção de coisas que as gravadoras elegeram como um grande público. Agora a resposta  dessa necessidade a nível de marketing, de mercado do qual as gravadoras dependem, é um problema que não me diz respeito e sim de que uma gravadora me inclua dentro do esquema de vendagem. Isso são jogadas subterrâneas que envolvem artista-gravadora das quais o artista em si não tem nenhuma condição de influir, a não ser com sua própria arte, com sua necessidade de dizer coisas e trocar energias'.
Ednardo conclui seu raciocínio a respeito do artista e de sua obra de uma maneira muito coerente: 'Um trabalho artístico pode sofrer retardamento, mas nunca pode ser destruído como tal. Ele é o resultado do sincretismo simbológico de um determinado tempo. O artista, de uma maneira geral, faz um serviço quase de reportagem; testemunho de uma época'.
'Ednardo' é o primeiro disco pela gravadora CBS. Nele estão presentes, como participação especial, os cantores e compositores cearenses: Teti, Vicente Lopes, Rogério, Régis, Simone Gadelha, Ângela Linhares e Petrúcio Maia. Em oito anos é essa sua discografia: 1973 - Continental/'Meu Corpo, Minha Embalagem, Todo Gasto na Viagem' (Pessoal do Ceará)/ 1974- RCA/'O Romance do Pavão Misteriozo'/ 1975 - Som Livre/ 'Festival Abertura'/ 1976 - RCA/ 'Berro'/ 1977- RCA/ 'O Azul e o Encarnado'/ 1978 - WEA/ 'Cauim'/ 1979 - CBS/ 'Ednardo'. "


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