Palavras Domesticadas

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sábado, 7 de maio de 2016

Jimi Hendrix - Revista Veja (1969)

No início de 1969 Jimi Hendrix ainda não era um nome muito conhecido no Brasil,

embora já se destacasse no meio do rock internacional, e já tivesse três discos gravados, com

sua banda Jimi Hendrix Experience. O pessoal mais antenado já o conhecia, ou pelo menos já

tinha ouvido falar, ou lido sobre ele, mas em termos de grande público, ainda era

relativamente desconhecido. Até mesmo nos Estados Unidos, seu nome só se tornara

conhecido cerca de um ano e meio antes, após sua chamativa participação no Monterey Pop

Festival, em junho de 1967. Hendrix, apesar de americano, havia iniciado sua carreira e feito

sucesso primeiramente na Inglaterra, para onde emigrou, por ser lá que as coisas aconteciam.

O Festival de Woodstock, que daria um maior impulso ao nome de Hendrix em termos

mundiais, só aconteceria sete meses depois. Por isso, ao publicar uma matéria sobre ele, em

janeiro de 1969, a revista Veja falava de uma grande novidade chamada Jimi Hendrix, o que

fica evidente no texto transcrito abaixo, que não veio assinado:

“O artista do ano, para a influente revista americana ‘Billboard’, é um negro de 23

anos, cabelos eriçados, capaz de tocar guitarra até com os dentes e que se apresenta com uma

roupa inflável - um rosto enorme com dois olhos desenhados e fixos, Jimi Hendrix, o líder do

conjunto Jimi Hendrix Experience, que ganhou dois Discos de Ouro pelos seus dois milhões de

discos vendidos, está sendo imitado em toda parte e acaba de ter uma seleção dos seus três

Lps lançada no Brasil pela Philips, com o título ‘Smash Hits’. A gravadora diz que o disco vai

estourar, e Antônio Carlos Duncam, chefe do seu Departamento Internacional, explica por que:

‘Qualquer guitarrista do mundo tem os discos de Jimi. Eles são uma grande fonte de pesquisa’.

Nos três Lps até agora gravados, o conjunto, apesar de sua variedade sonora, é só um trio –

Hendrix (guitarra), Noel Redding (contrabaixo) e Mitch Mitchell (bateria). O grupo foi formado

em setembro de 1966, na Inglaterra, e saiu em excursão pelo mundo após um concerto de

grande sucesso no Olympia de Paris.
Outros planetas – Jimi descobriu o seu estilo de apresentação em Nashville, nos

Estados Unidos, quando resolveu esquentar um baile tocando guitarra nas costas. Os outros

músicos logo seguiram, depois do festival de Monterey, no Canadá (*), foi ainda mais longe:

arrancou as cordas da guitarra com os dentes, despedaçou e incendiou o instrumento. ‘Mas

tudo isso é besteira’, diz ele, ‘o que interessa mesmo é a música, e não o exibicionismo’. Um

guitarrista brasileiro cita uma de suas letras como prova de que ele está querendo conversar

com povos de outros planetas: ‘Venham/Não fujam/Eu quero falar com vocês’. O New York

Times, maior jornal americano, diz - ‘Não se sabe, como elogio ou crítica – se ele é ‘o Elvis

Presley negro’. A revista Time noticia, num estilo que parece lembrar as músicas de Hendrix,

que ‘o seu som é um torvelinho onde chocam corrente dos blues negros e o iê-iê- iê

psicodélico, agitadas dentro de um poder dominador que emana de seus nove amplificadores

e dezoito microfones’. A opinião de Hendrix: ‘Eu sou preto e nasci na América. Tudo o que

penso e sonho está nas minhas músicas. Eu sonho com trovões e tempestades, pois amo

trovões e tempestades. Minhas canções são isso’.

Um sucesso - Jimi Hendrix á apenas o apelido famoso de Jimi James, que já foi um

modesto guitarrista do conjunto americano Blues Flames, antes de ser acompanhante de

astros como Aretha Franklin, Otis Redding e Clara Thomas. Ele resolveu sair da obscuridade

indo para a Inglaterra, e realmente saiu: em menos de um ano, começou a reunir muita gente

para ouvi-lo e, na volta a Nova York, 18 mil pessoas se espremeram para ver sua apresentação

no Singer Bown. O aristocrático Carneggie Hall recusou um espetáculo seu, com medo dos fãs

depredarem o auditório – mas sua apresentação no muito oficial Philarmonic Theater foi

calma, bem comportada e delirantemente aplaudida. Seus dois primeiros discos, ‘Are You

Experienced’ e ‘Axis: Bold as Love’ subiram muito depressa nas paradas, o mesmo

acontecendo com ‘Eletric Ladyland’, que em cinco semanas chegou ao primeiro lugar nas

paradas americanas. Das quarenta músicas desses três discos, 35 foram compostas por

Hendrix e começaram imediatamente a serem gravadas por outros conjuntos. Um discípulo

brasileiro de Hendrix, segundo os críticos, é Gilberto Gil, principalmente na sua atual fase de

‘Madalena’, ‘Batalha das Latas’ e ’Questão de Ordem’, com seus gritos agressivos, seu ritmo,

seu grito forte e seus intensos movimentos de corpo que faz enquanto canta.”

(*) A matéria traz esse erro de informação. O Festival de Monterey aconteceu nos

Estados Unidos.

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